TODO DIA É DIA DO SEXO

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Eu decido o meu jeito de sentir prazer.

Podemos nos abrir para experiências diferentes, pessoas diferentes, vivências diferentes, mas primeiro precisamos ter vontade. Desconstrução de verdade é respeitar o limite do outro. Não dá pra simplesmente julgar alguém que gosta de ser apenas ativo ou passivo, nem o sujeito que adere ao chamsex (sexo com uso de substâncias) mesmo tendo consciência dos danos ou mesmo ficar irritado porque fulano não sente desejo por mim.

Não é sobre o que eu acho certo ou errado, melhor ou pior. É sobre as inúmeras formas de sentir prazer que vão muito além e diversas vezes serão diferentes ou contrárias as minhas.

Existe uma variedade tremenda de pessoas com suas particularidades e desejos, cada uma tocando seu próprio ritmo sexual. Quando um parceiro consegue tocar a mesma música que outro é que toda a harmonia acontece. De um simples beijo até uma pegada hardcore, não importa qual forma de tesão seja, há enormes chances de funcionar.

Não é o outro quem detém o direito sobre o que faço com meu corpo ou com meu prazer’. E não se trata penas da heterossexualidade compulsória que, por vezes, sequer transa, mas vive de fiscalizar o prazer das pessoas livres. Problemas também surgem quando semelhantes questionam cheio de regras e opiniões a maneira como fazemos sexo. O erro já começa só pelo fato de que se não é fulano quem está trepando comigo, ele não pode saber exatamente pra quem direciono meu desejo, qual o tipo de pessoa me atrai ou se transo com 1 ou 10 na semana. Mesmo que ele possua suposições criadas a partir de algo dito ou postado, continuam sendo só suposições.

E ainda que soubesse, se eu tô satisfeito e sentindo prazer com meu(s) parceiro(s) o problema não parece estar em mim, mas em quem está me julgando. Muita coisa do que a gente aprende sobre sexo vem de filmes e vídeos pornográficos e isso não vai parar enquanto educação sexual for vetada por gente mal intencionada e mal comida. Vamos lembrar que tais filmes e vídeos são editados para imprimir um compacto do que uma transa poderia proporcionar, mas sendo algo editado qualquer perrengue como “passar cheque” ou sentir dor, por exemplo, é retirado. Não se culpe por não fazer um sexo performático, nem culpe o outro que pensa que sexo é só um pau entrando num buraco, ninguém foi ensinado direito.

O ‘proibicionismo sexual’ está por todas as partes, mas nunca fez outra coisa a não ser marginalizar. Desde o regime heterocentrado que adora colocar na conta dos homossexuais a culpa por todo tipo de pecado ou Infecção Sexualmente Transmissível, como se heterossexuais fossem seres “blindados por Deus”, até o preconceito no próprio meio gay em casos de sorofobia, julgamento negativo sob aqueles que decidem usar Prep ou apenas que decidem ter uma vida sexual livre da norma imposta ou até os que não acham importante ter uma vida sexual.

Não gostar de transar com alguém aleatório do aplicativo não te faz melhor ou superior, assim como curtir banheirão não te torna inferior. Tudo são possibilidades e não importa o que nossa ética pessoal ache, continuarão a acontecer. Vai de cada pessoa encontrar parceiros que se alinhem em comportamentos e desejos.

Toda essa moral sexual não funciona quando bate de frente com aquilo que a sexualidade representa: “um aspecto central ao longo da vida do ser humano que engloba sexo, papéis e identidades de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução.” Isso aqui dá uma palheta infinita de cores das mais diversas, então, como posso utilizar apenas a minha régua como medida certa quando existem milhares de tonalidades diferentes influenciadas de maneira singular por fatores biológicos, psicológicos, históricos, sociais e culturais?

AUTOR

RIGLE GUIMARÃES

Psicólogo e Terapeuta Sexual com foco no público LGBT+ e abordagem de comportamentos sexuais variados.

Instagram: @psicorigle com conteúdo voltados a questões que vão da saúde mental à sexualidade.

AMOR NA ERA DOS APLICATIVOS

A TAL PROMISCUIDADE

CROSSDRESSING

PIG

BANEHIRÃO

HOMEM MACHISTA

ENTENDA O SEU RITMO SEXUAL

VARIAÇÕES SEXUAIS

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1 comment

  1. morroi 16 setembro, 2021 at 17:35 Reply

    Ah, o moralismo que permeia nossa sociedade! Os fiscais do c* alheio! Pra mim quem se encarrega de ditar regras é julgar os comportamentos alheios nada mais é do que frustrado, não se permite viver sua sexualidade de forma plena, e não quer que os outros o façam. Triste porém real, desde que o mundo é mundo…

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