A TAL PROMISCUIDADE

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Segundo o dicionário Aurélio, a palavra promíscuo define “o indivíduo que tem habitualmente relações sexuais ou amorosas com vários parceiros”. Isso me parece muito mais liberdade, porém num mundo regido por pessoas que fiscalizam o prazer do outro acaba tendo uma conotação extremamente negativa.

O promíscuo faz sexo com qualquer um, sem critérios. Ele é sujeito perigoso, do ponto de vista epidemiológico. Ameaça a ‘ordem natural’ monogâmica.

Promiscuidade era, na origem, a mistura indevida de classes sociais. Com o passar dos séculos, à medida que a sociedade foi se tornando mais cristã e mais moralista, promiscuidade se tornou sinônimo de sexo feito por prazer, com mais de uma pessoa, fora das regras da igreja e do matrimônio.

O discurso atual acerca do prazer é o mesmo da igreja há séculos atrás, apenas tomou os ares modernos da tecnologia.

Canso de ver pessoas na internet julgando quem decide tomar Prep (medicamento que previne infecção por HIV).

“Quer tomar porque quer fazer sexo sem camisinha com todo mundo!”

“Prep não previne outras IST’s”

Já se o sujeito for alguém que vive com hiv acaba sempre culpabilizado como se fosse uma escolha totalmente consciente contrair o vírus.

O mais vergonhoso disso tudo é que as mesmas pessoas que culpam, apontam o dedo e julgam são as que pregam discursos de bondade, respeito e igualdade.

Nada mais cristão que isso né verdade?

A palavra promíscuo ganhou força em meados dos anos 80 com a epidemia de AIDS. Era preciso combater a vida sexual que trazia risco para a sociedade de alguma forma e nada mais castrador que associar liberdade sexual a doença e morte. Tendo certo respaldo técnico e moral da medicina, a ‘promiscuidade’ ficou associada principalmente a sujeitos homossexuais, sem levar em consideração que relações homossexuais são menos duradouras que as heterossexuais por estarem condicionadas a fatores sociais, culturais, legais e religiosos.

E falando em heterossexuais…

Não dá pra falar de liberdade sexual sem citar a hipocrisia disseminada socialmente de que homens são naturalmente mais sexuais que mulheres.

Na verdade homens tem passe livre, mulheres não. Mais que isso: homens heterossexuais não são considerados promíscuos se transarem livremente, homens homossexuais são.

Homens quando trepam com várias só faltam receber um troféu por cada foda.

Mulheres são desestimuladas ao sexo, ao orgasmo, ao prazer com um parceiro ou com vários.

Facilmente é rotulada de puta, fácil, vadia, aquela que não se dá ao respeito, inclusive por outras mulheres.

Pura repressão e preconceito com embasamento cristão.

Não precisamos de mais retrocessos sexuais, culturais ou morais.

A vida sexual de nossos antepassados foi totalmente controlada e aprisionada pela igreja, pela família, pelos ‘costumes’ da época.

Liberdade sexual não quer dizer falta de responsabilidade.

Contrair uma IST não significa que fulano seja mais sujo, pecador ou impuro do que cicrano que nunca teve. Aliás, penso que seja preciso cada vez mais normalizar ter uma IST. Gripe, resfriado ou qualquer outra coisa que pode passar de uma pessoa para outra tudo bem, mas se tiver uma enfermidade de conotação sexual o sentimento tem que ser de vergonha, culpa, silêncio?

Antes que achem que tô normalizando sexo desprotegido, surubas, gangbang ou seja lá o que for é importante lembrar que a responsabilidade e os mecanismos de escolha são individuais.

Comportamentos sexuais e IST’s vão continuar acontecendo porquê não é apenas o senso de moralidade que governa a vida das pessoas. Há muito mais em jogo.

Escolha sabiamente empatia ao invés de culpa.

É necessário eliminar palavras como promiscuidade e entender que somos seres sexualmente livres.

As mudanças no mundo acontecem nas pequenas coisas.

AUTOR

RIGLE GUIMARÃES

Psicólogo e Terapeuta Sexual com foco no público LGBT+ e abordagem de comportamentos sexuais variados.

Instagram: @psicorigle com conteúdo voltados a questões que vão da saúde mental à sexualidade.

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