O sexo pode ser entendido analogicamente como uma linguagem que, ao invés de conceitos e informações, transmite emoções.
Na vida dialogamos através de ações. Na linguagem oral dialogamos mediante a palavra e, na linguagem sexual, mediante carícias, beijos, foda, etc.
Assim como na linguagem oral, a sexualidade permite compartilhar uma infinidade de conteúdos com emoções variadas. Ela é parte de um sistema que inclui todo nosso mundo emocional, tanto as emoções primárias (alegria, surpresa, raiva, medo…) como as emoções secundárias tal qual submissão e dominação, por exemplo.
O diálogo consigo mesmo ajuda a se conhecer melhor. Esse aumento no autoconhecimento ocorre quando você fala sozinho (em voz alta ou pensando) e também acontece durante a masturbação porque, no momento da prática, você aprende sobre sua própria sexualidade.
Em cada ato comunicativo há um remetente, um receptor, um canal e uma mensagem. No caso específico da sexualidade: o remetente é alguém que quer transmitir (provocar) uma emoção para o receptor que é quem experimenta isso. O canal são as carícias, as palavras: os elementos que servem para provocar a emoção. A mensagem, obviamente, é a emoção.
Para que se produza a comunicação é imprescindível que emissor e receptor mantenham os mesmos códigos. Na linguagem oral eles devem saber o significado das palavras que usam, eles devem falar a mesma língua.
No caso da sexualidade, é essencial que ambos entendam que certos gestos se destinem a comunicar uma certa emoção. Por exemplo: se o remetente fornecer um tapa com a intenção de provocar surpresa ou submissão sexual, mas o receptor entende os tapas como agressão, a comunicação será defeituosa. Somente se ambos entenderem a mesma coisa, o tapa servirá para comunicar a emoção que se pretende. Isso faz parte do entendimento mútuo que chamamos de “práticas consensuais”.
Temos núcleos cerebrais com os quais nascemos, que são essenciais para desenvolver a linguagem (área de Broca, área de Wernicke, córtex fonológico, etc) e amadurecimento com socialização. Da mesma forma, temos uma infinidade de estruturas cerebrais e endócrinas relacionadas ao manejo emocional e sexualidade (amígdala cerebral, hipotálamo, área pré-frontal, algumas glândulas endócrinas, etc.) que constituem uma pré-configuração do sistema sexual-afetivo. Mas essa pré-configuração, como a linguagem oral, dependerá da estimulação do ambiente para que ela possa se desenvolver. Se nossos pais (ou os adultos que cuidam da nossa educação) não nos estimularem afetivamente não desenvolveremos nossa afetividade por completo.
Existem pessoas capazes de se expressar em diferentes idiomas e dentro de uma mesma língua e há pessoas que podem usar diferentes registros (culto, coloquial, técnico, etc.). Da mesma forma, há aqueles que podem se expressar com diferentes estilos sexuais, enquanto outros estão limitados a um único estilo. Tudo depende da capacidade e disposição para aprender a se comunicar em diferentes registros. Os sinais através dos quais expressamos nossa linguagem sexual são gestos (carícias, chicotadas, esfregões, mordidas, beijos, etc.), roupas (lingerie, jockstraps, máscaras, fantasias…) e acessórios (harness, penas, vibradores, anéis…), nudez (deixando a pele exposta para ser estimulada) e também as palavras que usamos durante o sexo (desde meu amor até engole esse car4lh*).
AUTOR
RIGLE GUIMARÃES
Psicólogo e Terapeuta Sexual com foco no público LGBT+ e abordagem de comportamentos sexuais variados.
Instagram: @psicorigle com conteúdo voltados a questões que vão da saúde mental à sexualidade.
O FOCO DE SUA SEXUALIDADE É SEU PRÓPRIO PRAZER OU DO OUTRO?
Uma resposta
Eu jamais pensaria em fazer esta analogia entre sexo e linguagem, mas achei um paralelo muito interessante. Infelizmente neste momento ainda não tenho como tecer nenhuma observação ou comentário a respeito – eu sou muito crítico comigo mesmo, só consigo me posicionar depois de estudar e ter uma opinião embasada.
Assim, só posso agradecer por ter sido instigado a pensar e me comprometer a voltar a comentar quando tiver uma opinião formada. Parabéns pela provocação, Rigle! Com certeza vai me fazer pensar, assim como espero que outros leitores também o façam!