A sigla D/s ou relação de dominação e submissão faz menção a um dos tipos de relações possíveis de se construir para vivenciar os jogos do SubMundo. A D/s é um relacionamento de longo prazo, onde podem ser estabelecidas rotinas e tarefas diárias, além de outras dinâmicas entre dominador e submisso.

Outras formas possíveis de realizar nossos jogos são como play partners em sessões avulsas ou com profissionais em sessões pagas. O termo play partner em português significa parceiro de jogo e você pode se questionar “ué, mas em uma D/s dominador e submisso também não são parceiros de jogo?” Sim! Esse é o significado original do termo, porém em território nacional, ele ganhou uma outra conotação, sendo vinculado a quem pratica sessões avulsas. Há também a compreensão de que o “avulseiro” diferencia-se de um play partner, de modo que uma sessão avulsa seria uma sessão única entre duas ou mais pessoas e que os play partners seriam aqueles que já têm um acordo para sessões esporádicas sem o vínculo de uma D/s.

Quando alguém extremamente leigo em relação ao SubMundo quer entender as diferenças dessas relações, costuma-se fazer uma analogia com construções do universo baunilha para dar algum parâmetro para esse novato. Então, diz-se que a D/s estaria para o namoro e as play partners (avulsas) para os “contatinhos”, claro que resguardadas as devidas diferenças. No entanto, essa comparação só serve para esse primeiro propósito, porque, na verdade, as relações vivenciadas por aqui não se comparam (ou ao menos na teoria não deveriam se comparar) às relações baunilhas.

Nossos jogos envolvem elementos que não deveriam ser, mas que são negligenciados no mundo baunilha e, por lidarmos com jogos que envolvem riscos físicos e emocionais, aqui esses elementos são bem mais rígidos, o que acaba por tornar as relações bem mais intensas. Nesse sentido, a comunidade do SubMundo reforça sobre riscos e responsabilidades e cobramos isso uns dos outros, pois enquanto movimento prezamos por relações construídas de forma ética.

Há um tempo atrás, eu abri uma caixinha de perguntas no instagram e pedi que as pessoas me contassem o que entendiam por D/s. Mantive todas as respostas carinhosamente guardadas até que eu tivesse elementos suficientes para organizá-las e, juntamente com minhas percepções pessoais, trazer um entendimento sobre esse assunto para vocês.

Dentre as respostas, alguns resumiram o tema como uma relação entre dominador e submisso, outros elencaram características que julgam indispensáveis nesse tipo de relação, tais como: respeito, entrega, comprometimento, confiança, comunicação, troca, cumplicidade, honestidade, transparência, disponibilidade, intimidade, intensidade, parceria, devoção, companheirismo, acordo, verdade, admiração, reciprocidade, diálogo, cuidado, sentimento, zelo, amizade, carinho, hierarquia e compatibilidade.

Concordo com cada uma das respostas que foram citadas, mas senti falta de alguma coisa que fosse mais específica do relacionamento D/s em comparação com as outras formas de jogar, além do desejo individual em querer vivenciar um ou outro tipo de relação. Até porque, a maioria dos itens mencionados podem e devem, a meu ver, ser encontrados em todas as possibilidades de jogar, uma vez que estamos lidando com pessoas e com jogos de prazer.

E aí percebi que faltou uma palavrinha nessa lista: responsabilidade. Quando acrescento essa palavra para descrever a D/s e fazer uma diferenciação com as outras formas de se relacionar, não me refiro a ser responsável no sentido de “ter juízo” ou “ter cuidado”, porque isso já é uma prerrogativa para se estar no SubMundo. Mas vejo que quem entra em uma D/s quer assumir responsabilidades que os jogadores avulsos não estão dispostos ou não podem assumir, tal qual ter algumas obrigações e realizar alguns ritos diários. E preciso destacar que isso também não é nenhum demérito! Seja qual for o motivo, como ter uma rotina atribulada incompatível com uma D/s, preferir jogar com múltiplos parceiros, entre outros, essa é uma escolha individual e que não torna ninguém mais ou menos dominador ou submisso.

Há também alguns jogos que requerem maior intimidade, conhecimento e total confiança entre os parceiros para serem realizados e este pode ser também um dos motivos de algumas pessoas optarem por construir uma D/s.

A cultura da D/s é muito forte no SubMundo nacional em comparação com outros lugares do mundo. Mas D/s não é um objetivo que se precise alcançar! Infelizmente, há muitas pessoas que acreditam que só possuem uma sexualidade kink enquanto estão em algum tipo de relacionamento, o que não faz o menor sentido. Sua sexualidade é a forma como você expressa os SEUS desejos e isso é pessoal e intransferível. Essa mentalidade é reflexo daquele pensamento de que estamos sempre buscando a “outra metade da laranja” e se tem algo que eu descobri depois de alguns tombos durante a vida, é que nós somos seres inteiros e não precisamos de outro para existir. Nós não somos metade de ninguém!

Mas voltando para a constituição de uma D/s e a responsabilidade que a envolve, eu vejo muitos submissos perguntando “sub pode isso? Sub pode aquilo?”, ao mesmo tempo em que vejo dominadores achando que eles não têm obrigações em uma relação ou que o sub não tem direitos.

Com isso em mente, convidei a Sra. Storm para, junto comigo, montarmos uma listinha norteadora sobre direitos e deveres de submissos e dominadores em um relacionamento D/s. Claro que cada relação vai ter seus acordos particulares, envolver limites específicos, mas aqui a intenção é elencar coisas básicas para sempre nos lembrarmos da humanidade por trás dos papéis que performamos e que muitos acabam esquecendo.

DIREITOS DE UM SUBMISSO:

• Ter seus limites respeitados;
• Ter uma safeword;
• Não sofrer constrangimento quando utilizar a safeword durante uma prática;
• Usar a safeword a qualquer momento da relação (desde que, com parcimônia);
• Receber aftercare que garanta a manutenção do SSC;
• Expressar desejos e incômodos sem ser julgado;
• Espaço para diálogo e feedbacks;
• Não querer realizar uma prática em um dado momento, mesmo que tal prática faça parte do acordo inicial;
• Ter opinião própria, ainda que não seja a mesma de seu parceire;
• Mudar de ideia e solicitar alterações nos termos do acordo;
• Encerrar o relacionamento a qualquer tempo;
• Quando castigado e/ou punido, saber o motivo dessa execução, como será feita e quanto tempo durará;
• Manter um hábito que lhe garanta a conexão com sua individualidade, evitando assim a dependência emocional;
• Constituir laços afetivos, independente da D/s, caso a D/s não cumpra essa função.

DEVERES DE UM SUBMISSO:

• Cumprir os acordos;
• Respeitar a hierarquia acordada;
• Utilizar a safeword com responsabilidade, sem banalizar o seu uso;
• Dar aftercare;
• Zelar pela integridade física e psicológica do parceire, inclusive quanto à prevenção de ISTs e gravidez;
• Dar feedback com veracidade a fim de garantir o aftercare do parceire;
• Ser verdadeiro e assertivo em sua comunicação, não usando de expedientes como mentiras e manipulação;
• Zelar pelo seu bem estar, antes de qualquer coisa;
• Ponderar sempre, antes de questionar uma ordem recebida;
• Ter conduta compatível com a conduta do dominante, evitando constrangimentos e situações vexatórias;
• Não oferecer submissão a outros dominadores (a não ser que o acordo dos parceires contemple essa liberalidade);
• Respeitar o que fora negociado, com relação ao direito do dominante à pluralidade de posses.

DIREITOS DE UM DOMINADOR:

• Ter seus limites respeitados;
• Ter uma safeword;
• Receber aftercare;
• Expressar desejos e incômodos sem ser julgado;
• Espaço para diálogo e feedbacks;
• Mudar de ideia e solicitar modificações nos termos do acordo;
• Encerrar o relacionamento a qualquer tempo;
• Receber feedback para que seu aftercare seja executado;
• Ter sua reputação preservada;
• Escolher viver no regime de pluralidade de posses;
• Ter uma “liturgia” em sua Casa, desde que, a mesma não contrarie as regras mínimas de segurança do BDSM.

DEVERES DE UM DOMINADOR:

• Cumprir os acordos;
• Respeitar os limites do submisso;
• Não reagir com descontentamento se o sub utilizar a safeword;
• Não pressionar o sub a fazer algo que não deseja, sob consentimento negativo;
• Zelar pela integridade física e psicológica do parceiro, inclusive quanto à prevenção de ISTs e gravidez;
• Dar aftercare;
• Garantir a preservação do SSC prestando um aftercare efetivo;
• Zelar pela integridade emocional e psicológica do bottom;
• Não forçar situações para que o bottom venha a exceder limites acordados;
• Ser claro e assertivo em sua comunicação;
• Não usar expedientes danosos como mentiras, comparações e ameaças;
• Comunicar de forma clara os motivos de um eventual castigo e/ou punição, bem como esclarecer como será feito e por quanto tempo;
• Após o cumprimento do castigo e/ou punição, chamar o bottom para o “feedback de volta” a fim de garantir que houve, por parte do bottom o entendimento de toda a situação;
• Não esconder negociações extra D/s;
• Garantir ao bottom, o desenvolvimento de laços afetivos, independente da relação /Ds, se esse não for o propósito da relação.

Como dito anteriormente, você e seu parceire podem montar acordos específicos e ter inúmeros outros itens para pautar a relação de vocês. Essa lista não tem a pretensão de ser limitadora, mas de ajudar com questões que julgamos indispensáveis. Com todos esses pontos em mente, acreditamos estar fornecendo um parâmetro saudável e responsável para que uma D/s seja montada.

Desejamos a todes experiências saudáveis e prazerosas!

Com carinho e hidratação,

Bela e Sra. Storm.

Você encontra a Sra. Storm em:

Instagram: @darkroomclaoficial

* Outros contatos na bio do Instagram

AUTORA

Quem nos conduz nessa jornada pelo SubMundo é Belarina.

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