EU NÃO FAÇO AMOR. EU FODO, COM FORÇA. 50 TONS DE CINZA E O BDSM

Se o assunto é BDSM no cinema ou na literatura, seja um curioso ou veterano no meio fetichista, certamente você já ouviu opiniões sobre a trilogia 50 tons de cinza.

Há quem ame e há quem odeie, há praticantes da comunidade BDSM que veem o filme por uma ótica positiva e outros que acreditam que a obra trouxe uma leva de curiosos que desvirtuam o meio.

Então, decidi colocar em um texto as minhas considerações pessoais sobre a história de Anastasia Steele e Christian Grey e seu impacto na comunidade BDSM e trazer o debate para o SubMundo.

Já adianto que eu sou do time que mais defende do que critica o filme, pois vejo como uma obra que abriu as portas para que as mulheres começassem a olhar para a sua própria sexualidade. Sim, eu chamo atenção principalmente para o público feminino aqui, pois a produção de conteúdo erótico ainda é muito mais voltada para o público masculino e 50 tons, apesar de não ter um viés exatamente pornográfico, parece buscar um diálogo maior com o erotismo das mulheres.

A trama é centrada na personagem de Anastasia Steele, uma jovem universitária, e do poderoso empresário Christian Grey. Ao ajudar sua amiga que se encontra doente, Anastasia conhece Christian e de seu encontro inicia-se o flerte e o romance. No decorrer da história elementos SM são inseridos para apimentar a relação e, apesar do frenesi que o tema causa no público, esse não é o foco da obra. Vamos sendo apresentados aos poucos aos traços que compõem a personalidade de Grey, bem como ao seu passado como forma de justificativa de seus ‘gostos peculiares’.

Então, o primeiro ponto que eu gostaria de destacar é que o tema central do filme não é o sadomasoquismo. Trata-se de um drama romântico onde elementos do universo SM foram inseridos como pano de fundo da história principal.

Minha maior crítica à narrativa reside no fato de Grey ser apresentado como adepto ao sadomasoquismo em razão de um trauma vivido em sua infância e buscar nas práticas uma forma de extravasar sua raiva e não um meio de obter prazer.

Já há estudos que comprovam que a sexualidade kink não é reflexo de traumas vivenciados como o longa tenta mostrar. Assim, todas as ações do personagem de Grey enquanto dominador podem ser questionadas, pois não são pautadas na expressão da sua sexualidade, o que faz com que percebamos nele uma pessoa que teme relacionamentos, procura não se envolver emocionalmente e quando se apaixona torna-se alguém extremamente possessivo, com atitudes abusivas e que o levam a conduzir um relacionamento tóxico.

O diálogo aberto e transparente também pode ser elencado aqui como conduta que sabemos ser essencial em uma relação de dominação e submissão e que não está presente no relacionamento dos personagens. O consentimento também é digno de reflexão e, apesar do contrato aparecer, o limite do que é consensual e do que é abuso merece atenção.

Isso tudo aparece no filme mascarado pela ficção romântica que aguarda pelo “felizes para sempre” e é recheada de elementos utópicos como a figura de um dominador lindo, rico, poderoso capaz de atos grandiosos e a donzela bela e ingênua como submissa.

E aqui nem de longe há uma apologia ao “BDSM não envolve sentimento”, ao contrário disso, vejo essa parte como a mais plausível da trama que é dois seres humanos se apaixonarem.

Aí você deve estar questionando como com tantas críticas eu ainda defendo o romance de E.L. James… E a resposta é bem simples, por que além de apresentar elementos como o uso da safeword e dos acordos através do contrato para as pessoas que nunca ouviram falar em BDSM, o filme permite que exercitemos esse olhar crítico para o que não condiz com a realidade da comunidade BDSM. Mesmo que o tema do sadomasoquismo tenha sido apresentado de uma forma torta com arranjos questionáveis, levou as pessoas a falarem sobre o assunto, outras tantas a buscarem mais informação e outras ainda a descobrirem que algo que elas achavam que estava muito errado em seus gostos, na verdade, é muito mais comum do que elas poderiam imaginar.

Através do filme, mesmo tratando-se de uma ficção bem romantizada, a questão dos afetos (que vejo como um grande tabu dentro do meio) nas relações BDSM veio à tona e vejo que ainda precisa ser muito debatida e desmistificada.

Além disso, nos permite olhar para a personagem Anastasia para falar sobre a submissa, que no BDSM nem de longe é uma pessoa insegura, dependente e apática. A submissa é a mulher que entendeu onde reside a sua libido e que resolve tomar posse de seus desejos, lutar por sua liberdade sexual e viver seus prazeres entregando ao outro um poder que ela sabe que é dela.

Há muitas “Anastasias” por aí? Sim, claro! Dentro e fora do BDSM. E cabe a nós que já passamos por algum grau de amadurecimento e conhecimento alertar e conscientizar aquelas que ainda não enxergam o SubMundo com tanta clareza.

Por isso, acredito que a discussão que 50 tons traz tenha mais prós do que contras para a comunidade fetichista.

Nenhuma mudança se faz sem debate e sem divergências. E se queremos nos expressar sexualmente, livres de quaisquer julgamentos e intolerâncias, não é nos fechando em nossa pequena bolha e segregando os curiosos que teremos intento. Portanto, sejamos acolhimento para ser revolução! E você? Ama ou odeia ‘50 tons de cinza’?

Com carinho,

Bela.

AUTORA

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