A NEURA DO CORPO PERFEITO. PRECISA MESMO?

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Este material foi elaborado pelo nosso colaborador Dr Pedro Paulo Sammarco, Doutor em Psicologia Social que vai nos falar um pouco sobre os fetiches nas relações:

Malho compulsivamente. Cuido muito da minha alimentação ao extremo. Tenho 21 anos, 188 cm e 88 kg de músculos e quase zero de gordura. Mesmo assim me acho feio e penso que se não ficar com um corpo perfeito, não consigo namorar ninguém. O que faço para sair dessa neura?

Caro leitor,

Você está vivendo algo típico do mundo atual. O mercado que explora o corpo associa valores subjetivos a valores estéticos quando desenvolve e dissemina a seguinte mensagem: a beleza externa aparente em músculos bem torneados e definidos, nada mais é do que o reflexo direto da existência de uma beleza interna correspondente. Influenciados por pelo filósofo grego Platão, tendemos a pensar que se é considerado belo, é automaticamente bom. Entretanto, sabemos que muitas vezes, as aparências são apenas aparências. A associação feita pela propaganda entre o cuidado com o corpo e a sexualidade humana, provoca nas pessoas excesso de auto-erotismo, narcisismo, individualismo, competitividade, sensualidade e hedonismo.

Diferentemente do conceito de hedonismo cunhado pelo filósofo grego Epicuro (241 – 370 a.C.), que dizia que o prazer está relacionado à imperturbabilidade da alma (temperança), na atualidade, ser hedonista é buscar o prazer como o bem supremo e torná-lo o principal objetivo da vida moral. Excessos são estimulados. Em outras palavras, o comportamento animal ou humano é motivado pelo desejo de prazer e evitar o desprazer. Portanto, a energia sexual, quando estimulada, torna-se muito poderosa e principalmente rentável financeiramente. Tal estratégia publicitária movimenta cifras bilionárias, especialmente na indústria do sexo e suas ramificações indiretas. Além disso, o corpo bem cuidado vai receber atenção, elogios e aprovação do outro que está sempre examinado e avaliando se ele se enquadra ou não nas normas impostas. Por meio dos veículos de comunicação, valores positivos são agregados ao mundo daqueles que conseguem atingir determinado padrão de beleza estabelecido.

O que pode gerar transtornos psicológicos e psiquiátricos. A vigorexia, por exemplo, é também é conhecida como síndrome de Adônis, bigorexia ou transtorno dismórfico muscular. É um distúrbio já classificado como uma das manifestações do espectro do transtorno obsessivo-compulsivo. Em certos aspectos, vigorexia e anorexia nervosa são desordens semelhantes, na medida em que interferem na visão desvirtuada que os portadores têm do próprio corpo. Diante do espelho, anoréxicos esquálidos e desnutridos se enxergam obesos, e os vigoréxicos se veem fracos, magrinhos, franzinos, apesar de fortes e musculosos. A autoimagem distorcida leva os portadores de vigorexia à prática exagerada de exercícios físicos, em busca do corpo perfeito, de acordo com os padrões de beleza impostos pelos valores da sociedade contemporânea. Ainda pode levar ao uso de anabolizantes, trazendo vários riscos à saúde. Muitas vezes a vigorexia pode vir acompanhada de ortorexia (preocupação obsessiva com dietas saudáveis).

Dimensões tipicamente humanas como passagem do tempo, velhice, infortúnios, doenças, sofrimento, conflitos e mortes não encontrariam formas de se expressar em um mundo de tamanha beleza. É a propaganda moral-estética da vida prometendo que a melhora de aspectos emocionais e psicológicos acontecem à medida que há melhora dos aspectos físicos. Com isso, as indústrias da beleza, saúde e bem estar ganham muito dinheiro com tal estímulo exagerado. Tornam-se no fundo um ramo de negócios que visam lucros e não o bem estar equilibrado de seus clientes. Aconselho você a buscar o autoconhecimento, para ver que não há só o corpo a ser cuidado. Diversificar fontes de prazer e conhecimento podem evitar dependências psíquicas. Obrigado pela confiança e continuem mandando suas dúvidas para que possamos continuar refletindo sobre a vida!

SOBRE O AUTOR:

Pedro Paulo Sammarco Antunes
Doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP

Sexólogo, psicólogo clínico e social, autor dos seguintes livros: “Travestis envelhecem?” e “Homofobia internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo”, ambos publicados pela editora Annablume.

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