TODO CUIDADO, É POUCO!

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Me lembro de quando era criança e ganhava aquele brinquedo que tanto queria. Eu tinha um zelo por ele, um cuidado tão grande, que muitas vezes até meus pais achavam estranho. Sempre mantive aqueles brinquedos “especiais” nas suas caixas. Quando queria brincar com algum deles, tirava da caixa, brincava e depois que terminava de brincar, limpava e guardava novamente na sua embalagem.

Na minha adolescência eu tive alguns animais. Tive gatos, cachorros, passarinhos, peixes. E da mesma forma que os brinquedos da infância, eu dava comida, banho, levava ao veterinário, passeava, limpava o aquário semanalmente.

Meus primeiros relacionamentos baunilhas sempre foram muito intensos. Sempre tive uma preocupação enorme em saber se a minha namorada estava bem, se tinha se alimentado, se estava em dia com os estudos, se estava com algum problema no trabalho. Sempre estive muito presente e sempre me fiz muito presente.

Em um dado momento da minha vida adulta, eu encontrei o BDSM. Conheci muita gente, criei laços de amizade, carinho, respeito e amor. E sempre tive a preocupação e olhei além do Top, do bottom, afinal sempre tive muito certo dentro de mim que antes de conhecer o Top, o bottom, eu queria e precisava conhecer a pessoa, o ser humano.

Independente do momento e da fase em que estava vivendo, o senso de cuidado sempre esteve muito presente e muito vivo. E guardadas as devidas proporções e vida pessoal de cada um, imagino que para muitos foi assim também. Temos em nós um senso de cuidado com as nossas coisas, afinal se não cuidarmos, simplesmente perdemos.

E é este ponto que eu quero abordar: O cuidado

Top cuida. Pelo menos deveria cuidar. Agora o que vem a ser este cuidado? Será que é apenas respeitar a safe e os limites pré-estabelecidos durante a negociação? Será que é só não fazer uma sessão depois de uma saída para um barzinho, onde ambos ingeriram álcool?

Eu digo que não. Por quê? Porque estamos lidando com seres humanos e não com objetos inanimados. Se você cuida daquele brinquedo, daquele animalzinho, das suas plantas e jardim, por quê você não cuida da sua posse?

“Ah, mas minha relação é só BDSM. Não tenho nenhum relacionamento baunilha com a minha posse” – alguns podem dizer.

E aí eu digo: Certo, e por conta disso, para você pouco importa se a tua posse está passando por um momento ruim, deprimida, com dificuldades no trabalho, doente ou com algum familiar doente? O cuidado da pessoa, do ser humano, só vale e só se aplica se a relação não for apenas uma relação BDSM?

De que adianta você dizer que é Top, dizer que cuida das tuas posses, se não se importa se o bottom está bem emocionalmente? É muito fácil e cômodo se sentar no trono de ferro (ou de qual material for) e ficar ditando ordens, dando tarefas, exigindo submissão, satisfazendo suas vontades e dizer “Lembre-se, tua safe é azulejo”.

E como fica o lado pessoal? Onde entra aquela parte onde você conversa, ri, filosofa, escuta o teu bottom? Cuide do teu bottom, como você cuidaria do teu bichinho de estimação, da tua plantinha, do teu brinquedo especial. Porque se você não cuidar, você vai perdê-lo, ele vai morrer.

Pensou que acabou? Não, agora vem a segunda parte.

Por quê alguns bottoms não permitem que o Top cuide deles? Não, você não leu errado. Muitos bottoms não se permitem ser cuidados fora da esfera da relação. Vamos lá.

Muitos fazem uma correlação entre estar em uma relação vertical e se envolver emocionalmente. Via de regra é sempre o bottom que se envolve emocionalmente com o Top. Veja, eu disse “via de regra”, ou seja, em alguns casos, o Top se envolve emocionalmente com sua posse.

O que eu tenho visto e ouvido é um discurso onde bottoms não se abrem com seus Tops porque não existe envolvimento emocional por parte do Top. Mesmo o Top sinalizando e dizendo com todas as letras que quer saber, acompanhar, cuidar, a visão deste cuidado por parte de alguns bottoms só se valida se ele (bottom) sentir e/ou souber que o Top está envolvido.

Gente, cuidado independe de envolvimento emocional. Se eu cuido de um amigo, de um colega de trabalho, por que eu não cuidaria de uma posse que está sob meu domínio e controle? Sim, existe o medo, o receio, o desconforto de se abrir. Mas vocês não acham que é um preço muito alto a se pagar para ficar quieto, sofrendo, sendo que você tem ali um porto seguro, um apoio, alguém que está ali também para isso?

Outro comportamento que eu vejo com uma certa frequência é o bottom trazer conceitos e vícios do universo baunilha para dentro do BDSM. Um exemplo clássico é o bottom buscar um Top imaginando que ele será, além de Top, seu namorado. Não que isso não possa acontecer. Eu fui casado com minha submissa por 15 anos. Mas o mais comum é isso não acontecer. Aqui, as relações são verticais e não horizontais, então não espere encontrar o príncipe encantado, o salvador da pátria, o amor da sua vida. Se acontecer, ótimo. Mas não tenha isso como foco principal na tua busca.

Então, bottoms, permitam que seus Tops te conheçam e cuidem de vocês. E vocês, Tops, aprendam a cuidar de suas posses, assim como vocês cuidam de si próprios.

Lembrem-se, somos TODOS seres humanos antes de sermos Tops e bottoms.

AUTOR

SENHOR ASGARD

Sádico e Dominador.

A palavra que melhor me define é sem dúvida “Intensidade”.

Entre minhas paixões destacam-se a fotografia, música, literatura, cinema e tecnologia.
Sou criativo e bem-humorado, sem deixar de ser firme em minhas convicções.

Sou alguém que apesar de abraçar certos padrões, não me limito por eles, sempre consciente de que acima de qualquer rótulo está o ser.
Minhas decisões e atos são guiados por minha lógica clara e direta, porém há sempre espaço para surpreendentes improvisações.

Observador e Detalhista.
Para mim, tudo importa. E muito pouco (ou nada) passará despercebido.

Como Dominador, espero de minha submissa inteligência e proatividade.
Sou exigente e ambicioso. Jamais me contentaria com atitudes de passividade e estagnação.

Como Sádico, desejo dar sempre um passo a mais.
Sou responsável, porém audacioso. Assisto ao sofrimento com prazer. Quando esse meu lado encontra quem realmente o satisfaça, os limites são superados e o prazer ganha uma nova dimensão.

Como pessoa, sou gentil e atencioso.
Me importo pouco com as impressões alheias. Vivo a meu modo, sem máscaras, sem excessiva diplomacia. Deixo claro minhas discordâncias e desafetos. Falo com o olhar. Sou honesto comigo mesmo.

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