O MOTOCICLISTA

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Fim do dia, um pouco frio, o que ajuda a melhorar a experiência de ficar equipado dos pés à cabeça. Escolha de hoje foi bota Dainese Pro Torque, tamanho 46 europeu (43 Brasil), preta, apenas alguns detalhes em vermelho e o logotipo branco. Sempre gostei da ausência de cores chamativas, quanto mais preto, mais interessante é, pois menos revela da pessoa por trás do equipamento. O macacão, um Dainese Laguna Seca de uma peça, tamanho 52 europeu marca bem no corpo, deixando os ombros bem pronunciados por todas proteções internas, apenas o nome e o logotipo de destacam em branco e, sem divisões entre a jaqueta e a calça, as linhas percorrem o corpo inteiro em um único couro, em um único tato que as mãos cobertas por luvas Alpinestars teimam em tocar. A sensação do toque do couro, acredito, que seja um dos motivos que mais levam um fetichista a gostar deste material, depois o olfato, para onde leva á lembranças antigas e marcantes. O capacete é um AGV AX-8, preto, um modelo de proposta dupla para uma moto esportiva e um passeio por terra. Diria que é uma proposta tripla, pois tendo a frente pronunciada, tem um ar robótico, e agressivo. Uma viseira escura completa o visual em sua missão de proteger e agora de esconder, de não permitir quem está de fora saber quem é ou o que está olhando e pensando a pessoa atrás do acrílico.

Assim, sem um rosto visível, sem pele humana aparente, coberto por peças de couro, plástico, metal e alguns outros materiais gosto de sair de moto. Subir em uma máquina de 2 rodas, planejar um roteiro, e pegar a estrada, um misto de emoções que começou desde que era muito jovem, comprando primeiro revistas de moto (que eram muito melhores do que qualquer outra de pornografia), quando nunca imaginava que iria andar em várias ainda e comprei meu primeiro capacete (era difícil esconder a excitação no meio da loja quando precisei experimentar).

Um dia decidi que iria comprar a moto, em consórcio ainda, mas comprei, e quando chegou, mal via a hora de pegar a estrada. Então descobri que realmente era isso que eu queria, ainda mais porque eu podia usar tudo que eu mais gostava com a desculpa perfeita para andar assim em qualquer lugar. Eu era um motociclista (ou um motoqueiro safado mesmo). Saindo por aí todo equipado, viseira fechada, encarando outros motociclistas que param no sinal, aceno com a cabeça e, como grupo unido que somos todos que andam de moto, respondem o aceno prontamente.

Algumas vezes conversamos, as vezes levantando a viseira, dando uma bela encarada, e como tudo que se pode ver são os olhos, eles marcam bem algumas ideias e pretensões. Acenos comuns, conversas nem tão comuns, e algumas vezes, essa conversa ou até aquele olhar, segue para uma sequência de o semáforo ficar verde e saímos em velocidade e torque alto para uma “esticada”, as vezes para longe, uma longa estrada até um descanso, e as vezes só até o próximo semáforo. Nestas paradas, a conversa pode continuar, e as vezes ela nem precisa. Nem mesmo a viseira precisa abrir, mas cada um sentado em sua moto, encarando um ser totalmente coberto por couro e equipamentos mirando o outro leva a pensamentos que desviam apenas do passeio para um tesão que faz parte daquele momento, um homem, em uma moto, mostrando tamanha masculinidade que vai além do próprio ser. É a junção do humano e do mecânico, do corpo quente e da máquina fria através do couro, do equipamento.

É onde o fetiche atrai e une as pessoas e os objetos, o inanimado e o prazer humano. Deste momento então tudo pode acontecer, mas tudo que acontece envolve o fetiche. Envolve olhar, tocar e abusar de uma pele coberta por couro, de uma mão que não toca diretamente, mas que pela luva, sente volumes, passa por superfícies e tangencia os limites do corpo e da máquina. De uma bota que não fica só na pedaleira, mas é vista e sentida por ângulos bem diferentes, autoritários as vezes. O capacete que, para mim, obrigatoriamente deve ser usado, não só na pilotagem, tem a missão de coroar o ápice da fetiche, cobrindo completamente cabeças e rostos não só de como se fosse um objeto de prazer mas como algo requerido, obrigatório, e de um design que praticamente molda e da vida ao movimento que o pescoço desenvolve em torno do outro ser e das motos ali paradas.

Zíperes, sendo os padrões ou os estrategicamente colocados no macacão permitem que apenas algumas partes sejam reveladas, quando e se necessário. Nos meus melhores atos, prefiro que só o membro seja revelado. Este pode ser usado de várias formas, pelo toque e por ações mais quentes, e quando tocado pelo couro e sentido um banco ou um tanque de gasolina, explode em um rio branco que propositalmente contrasta com o preto e o metálico. Esta pausa finaliza então de uma maneira que relaxa e deixa pronto para seguir a rota.

Moto alinhada com moto na mesma faixa de rodagem, uma encarada pela viseira fechada novamente, baixando uma marcha e disparando estrada a frente.

Dawson – 21/07/20

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