CONSENTIMENTO NO SHIBARI – PARTE 2 – CONDUÇÃO

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Continuando aquela conversa super importante sobre a consensualidade no Shibari.

No texto anterior falamos sobre a importância de uma boa negociação antes da prática em si e agora vamos falar sobre algumas coisas importantes para ter em mente durante a condução de uma prática de Shibari.

A responsabilidade da pessoa que conduz no Shibari é muito grande, tanto na questão do risco de lesões físicas quanto na questão de respeitar tudo que foi acordado e negociado antes da sessão.

Mas aí é que vem os detalhes importantes que eu quero compartilhar nesse texto… Para que a condução seja baseada em consentimento, não basta assumir que seu eu fizer só o que foi negociado e acordado estará tudo bem.

O consentimento é algo dinâmico e é necessário o total comprometimento por parte de quem conduz para estar sempre atento aos sinais de desconforto, de incômodo. Por que eu digo isso? Porque sempre existe a possibilidade de a pessoa mudar de ideia sobre o que foi consentido na negociação e mostrar sinais de desconforto, mesmo o Rigger não tendo feito nada fora do acordo… aí que entra o comprometimento do Rigger em fazer checagens constantes durante a condução da prática para se assegurar de que a pessoa está realmente consentindo.

Perguntas como estas que vou mencionar abaixo ajudam muito a realinhar o rumo da sessão e abrem espaço para o Modelo se comunicar e reafirmar o consentimento ou se sentir totalmente acolhido para retirá-lo:

Está tudo bem contigo?
Eu fiz algo que te deixou desconfortável?
Tem algo que foi consentido e que você gostaria de retirar?
Você pode repetir a safeword, pra eu ter certeza de que você memorizou ela?
Você está se sentindo confortável com a forma como as coisas estão acontecendo?

Além dessas perguntas, algumas afirmações podem ser usadas durante a condução para encorajar o Modelo a se comunicar:

Por favor me avise se qualquer coisa te causar um desconforto.
Vou ajustar a tensão de corda, me ajude a entender até que ponto está ok pra você.
Estou subindo sua perna, por favor me diga até que ponto fica confortável pro seu alongamento.

O que nós precisamos nos dar conta é que o Shibari não é sobre cordas e sim sobre pessoas e para que a experiência seja positiva, nosso foco enquanto Rigger deve estar em garantir que a pessoa que está sendo amarrada tenha uma experiência dentro dos limites daquilo que ela está disposta a viver.

Para além de tudo que foi dito até agora, eu vou compartilhar algumas dicas, para ajudar a evitar maiores riscos de consentimento durante sua prática de Shibari:

Na primeira sessão com uma nova pessoa se atenha apenas ao Shibari, por mais que haja interesse mútuo entre ambos.

Quando você estiver fazendo uma sessão com alguém onde não estava acordada uma interação erótica durante a prática, porém a vontade surgiu em ambos, eu recomendo vocês encerrarem a prática dentro apenas do que foi combinado e dar um intervalo para baixar a adrenalina. Nesse momento ambos podem ter uma conversa e renegociar uma nova sessão onde todo esse interesse mútuo possa ser explorado… Mas é importante que essa renegociação seja feita fora da prática, onde ambos estejam em posição de igualdade, onde não há o fator de restrição das cordas, onde não haja nenhum elemento que possa induzir qualquer uma das pessoas a consentir com algo contra a sua própria vontade.

Essa dica vale ouro, anota aí: nem tudo que foi consentido precisa ser feito! O grande barato de uma sessão gostosa de Shibari é a fluidez da conexão entre Rigger e Modelo. A pergunta chave é: isso foi consentido, mas existe contexto para eu fazer isso nesse momento? Por exemplo, o Modelo consentiu com o ato de puxar o cabelo para conduzir a cabeça mas a sessão está fluindo toda na direção de uma interação mais suave e acolhedora… não faz sentido nenhum puxar o cabelo da pessoa somente porque ela consentiu com isso durante a negociação.

Eu gosto de encarar a negociação como a definição de um cardápio de possibilidades que eu vou ter à minha disposição para usar durante a condução, porém eu só vou usar as opções que harmonizam com a vibe que está acontecendo dentro daquele momento.

Enquanto Rigger, se você quiser ser respeitado, é importante estabelecer alguns limites dentro da sua prática profissional para deixar clara a sua seriedade. Eu, por exemplo, tenho alguns limites bem claros em sessões comerciais de Shibari: Não é permitido nudez nem minha nem do Modelo e não é permitido contato direto com as genitais do Rigger ou do Modelo.

Já são tantos os preconceitos que nós sofremos por termos escolhido vivenciar nossos fetiches que nós temos o compromisso de tornar nosso meio cada vez mais saudável e mais seguro.

O consentimento é esse pilar sagrado que nos separa das patologias e dos abusos, vamos nos atentar de que as nossas práticas sejam cada dia mais pautadas em respeitar esse pilar.

Conversar sobre consentimento dentro de cada prática, dentro de cada nuance, nos ajuda a refinar cada vez mais as nossas ferramentas para vivenciar experiências prazerosas e transformadoras. A safeword é uma das ferramentas mais poderosas nesse sentido, mas ela sozinha não é suficiente para garantir uma prática totalmente orientada pelo consentimento.

Espero ter ajudado com essas reflexões e fico disponível nas minhas redes para seguir com esse papo, é só chamar!

AUTOR

QUÍRON

Quíron – Rigger, Top, sádico e artista. No universo dos fetiches desde 2016, procura misturar Fetiche e Arte com suas cenas públicas, fotografias, textos e poemas.

INSTAGRAM: @quiron_shibari
Portfólio de fotos BDSM: https://domquiron.myportfolio.com/

CONSENTIMENTO NO SHIBARI – PARTE 1 – NEGOCIAÇÃO

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