Tem coisas que acontecem na vida que são simplesmente fascinantes e metafóricas.
Essa música interpretada pela Fafá de Belém e David Assayag não me saia da cabeça. É algo que me deixa animado, alto astral e aproveitando o meu app novo de músicas, virou a melodia da semana. Escutei a semana inteira, todos os dias, várias vezes por dia e até passei vergonha no metrô, balançando animadamente.
Isso mesmo, Dominadores fazem isso aliás, pessoas são capazes de fazer isso.
Casualmente VERMELHO é uma das minhas palavras de segurança, aquela que faz a sessão acabar.
Pois bem, o dia dessa sessão foi em um domingo pela manhã.
Estava escrevendo para o site quando um dos “Deuses do Olimpo” mandou uma mensagem por um app.
O que ele poderia querer tão cedo?
Uma sessão de dominação, das mais intensas e prometidas dos últimos tempos.
Assim cedinho pela manhã?
Uhmm estranho, mas vamos lá, um gostoso desses pedindo chicote não se pode dispensar.
Depois de uma conversa não muito profunda, descobri seus fetiches, seus desejos e vontades e a maior de todas era ser punido: apanhar de chinelo, chicote, ou o que me desse prazer.
Ele se disse masoquista e desejar um Dominador autoritário e radical, que eu era o cara perfeito para o feito e mais algumas delongas, que só inflaram o ego.
Prato cheio para uma manhã de domingo, pelo menos era o que parecia.
Vamos lá, fui até a masmorra e enquanto caminhava, mantinha o elo com ele em uma conversa pelo app.
Dizem que as vezes nós os dominadores somos obcecados por algo que dá prazer!
Ele chegou, um cara lindo, dos mais bonitos, com um corpo perfeito, malhado e gostoso, alto e definido e ainda com coxas grossas e peito peludo.
É verdade?
Sim, acredite, esse cara maravilhoso pode cair de paraquedas no seu caminhão!
E como é bom pegar gente bonita, ainda mais assim, com um bom papo e inteligente.
A sessão começou um pouco diferente do habitual, mas com os cuidados de sempre e entre eles, a informação das palavras de segurança, um combinado que deve existir entre Dominador e submisso, e que deve preceder ao início da sessão.
As minhas palavras são:
Amarelo: para reduzir ou diminuir a intensidade da prática;
Vermelho: para acabar a sessão. Neste momento paro o que estou fazendo e quero saber apenas o motivo do término, mas acima de tudo, respeito o momento de cada um.
Em 420 sessões até o momento, tenho o orgulho de dizer que tive apenas uma vez a sessão finalizada, a pedido do submisso, com o uso da palavra de segurança.
Pois bem, como eu disse antes, seu corpo é uma delícia, daqueles de ir para o currículo de qualquer homem, do tipo PEGUEI! (Coisas de macho, me desculpem).
Algemei, acorrentei e comecei a desfrutar do corpo e dos mamilos.
Este era só o começo, até chegarmos no spank propriamente dito, que aliás acontece de forma gradativa e sempre consensual. (diferente disso é abuso e já falamos disso anteriormente – pois NÃO PRATIQUE!)
Estava sensacional até escutar: VERMELHO!
Oi como assim?
Meio tonto ainda fiquei em dúvida se tinha ouvido isso mesmo.
E claro que era a única palavra do dicionário que não gostaria de escutar naquele momento de prazer. Que corpo, pqp!
Parei tudo e olhei para a cara linda dele e perguntei:
– o que você disse?
Ele confirmou: VERMELHO!
Demorei para acreditar, mas regras são regras.
Parei tudo, soltei-o com uma frustração tamanho de um bonde, devia estar visível no meu rosto.
Meio desconcertados, sentamos no sofá para conversar.
Ele colocou a mão na cabeça e começou a contar:
“- O Senhor me desculpe por ter vindo, mas o erro foi meu”.
“Acontece que estou apaixonado por um cara e ele não quer nada comigo, estou voltando da casa dele agora, pois fomos ontem pra balada e ficamos juntos, mas foi ruim, eu percebi que ele não me ama como amo ele, daí vi seu perfil no app e achei que merecia ser punido por ser um idiota, por ele não gostar de mim e blá blá blá”.
Punido?
Ainda bem que paramos na hora certa, pensei silenciosamente.
No fundo ele buscava uma forma de flagelo e por isso pediu para apanhar, ser usado com desdém e de forma brutal.
Mas BDSM não é isso, não serve para isso e fiquei até chateado com a situação.
Em um primeiro momento me senti usado, mas depois pensando com calma, não temos como prever uma situação]ao dessas.
Não somos responsáveis pelo que se passa na cabeça do outro, portanto eu nunca imaginaria o motivo real que moveu ele até esse encontro.
BDSM é prazer, é sensorial, é descoberta, controle, mas tudo baseado na confiança, segurança e principalmente em busca de uma realização, seja ela com toques de sexualidade e prazer ou pela realização de desejos e fetiches, mas acima de tudo, de forma sadia e consensual.
Ele não estava em um momento “são “ digamos assim, e portanto, com uma visão equivocada do que queria e principalmente, seus motivos.
Paramos e achei a melhor coisa do mundo.
Meu segundo “VERMELHO” registrado até hoje, mas não tinha como ser diferente.
Saí dali e continue a cantarolar, com a certeza de ter tomado a conduta certa.
E como dizem os cantores:
“Meu coração é vermelho
De vermelho vive o coração
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer”
E para finalizar, vale a metáfora, pois em uma semana recheada de música, o domingo não poderia acabar diferente; tinha que ser “VERMELO” mesmo, mas com ritmo de felicidade, pela certeza acima de tudo que é a cor do “Garantido”!
E para quem não sabe, lá em Parintins tem uma festa popular com a tradição dos bois: uma disputa entre os Bois Caprichoso e Garantido e daí vem a música que mencionei ser a minha fixação da semana.
Nunca fui na festa, mas pelo pouco que conheço e por causa desta música, o meu Boi preferido é o Garantido, aliás se tem uma coisa que posso garantir, é que comigo o BDSM só acontece de forma são, segura e consensual (SSC).
É Garantido!