IML – DIÁRIO – DIA 26/05/2017 – A ENTREVISTA

ENGLISH BELLOW

E a entrevista começou…E a entrevista começou…

Bem, o presidente da mesa perguntou se poderia começar e se eu estava pronto…

A primeira pergunta:

1) QUAL A SUA PEÇA DE ROUPA PREFERIDA?

Felicidade estampada na minha cara, pois esta foi a mesma pergunta do concurso no Brasil, aliás, também foi a primeira.

Eu respondi que era a jaqueta de couro que estava vestindo, que foi a primeira peça de couro da minha vida e que na verdade ela tinha sido surrupiada do meu tio. É que na época ele e seus amigos usavam a jaqueta e eu já era fascinado por homens, ainda mais motoqueiros, jovens, vanguardas para o seu tempo, o protótipo de macho que criei e será sempre o mais desejado para mim: o MOTOQUEIRO com a jaqueta dos anos 70.

Contei que um dia ele chegou em casa, largou a jaqueta e eu sumi com ela. Escondi durante anos embaixo do meu colchão e mesmo sem entender aquele desejo pois eu era muito jovem, sempre vestia a jaqueta, pensava nele e nos amigos e masturbava incansadamente, sei lá quantas vezes e claro, gozava na jaqueta.

Eles de verdade gargalharam, descontraíram e se divertiram muito, olhavam um para os outros e riram muito.

Daí veio a segunda pergunta e na minha cabeça seria a última..

2) POR QUE É IMPORTANTE PARA VOCÊ SER O MR LEATHER INTERNACIONAL?

Comecei contando que desde o começo foi tudo muito difícil, primeiro por eu morar em uma cidade pequena e preconceituosa, que é a minha cidade natal, Porto Alegre, que sequer tem movimento leather, mesmo hoje depois de 20 anos do meu início..

Depois mudei para São Paulo e aqui lembro bem de momentos em que eu ia nas boates (hoje se diz balada) e na coragem, ia vestido em full leather e as pessoas olhavam para mim, apontavam e riam ou desprezavam, eram raros os que se aproximavam e além disso, não conhecia ninguém, afinal era um imigrante, sem amigos.

Neste momento lembrei-me do quanto foi discriminatório e comecei a chorar.

Eles comoveram e também choraram, todos eles, sem exceção. Foi tocante.

E mesmo engasgado, eu disse que estar ali já era a minha maior vitória pessoal, mas que ganhar o concurso representa uma visibilidade que o meu país precisa, que o Brasil é o país do mundo onde se mata mais gays no mundo simplesmente por serem o que querem ser, pela busca da liberdade ou da sua identidade.

Hoje já sou um exemplo para muitas pessoas e esta visibilidade dará uma força imensurável na busca dos seus sonhos.

Ainda chorávamos, todos!

Aí um dos jurados disse: “vamos fazer uma pergunta feliz”; e veio a terceira:

3) VOCÊ DISSE QUE PRATICA BDSM, QUAL SUA PRÁTICA FAVORITA?

Sem dúvida alguma o meu maior desejo é iniciar as pessoas, pegar aquela pessoa que nunca teve contato com esse universo e mostrar um mundo novo, aquela primeira sensação que faz muitos tremerem, outros geme, outros se realizam sexualmente e muitos se libertam, não só nas suas fantasias, mas saem seguros da beleza do seu corpo, da sua força interior por ter resistido ou simplesmente renovados com práticas diferentes do sexo convencional.

Gosto de caras mais jovens, principalmente por terem menos preconceitos, menos medos e mais abertos para uma nova possibilidade. Sofrem menos na dor e se entregam com mais intensidade. Não é regra, mas é o mais comum que acontece.

Daí veio a quarta pergunta… ops, não eram duas?- eu pensei… risos!

4) QUAL É O SEU MAIOR MEDO?

E contrariando todas as respostas eticamente corretas, eu disse que era contrair alguma doença em função das minhas práticas. E daí expliquei…

Quando comecei a transar o HIV também teve seu início e lá na minha realidade com zero amigos gays e zero informação, pensava-se que contraia o vírus pelo ar ou pelo beijo e além disso,  alguns amigos dos amigos morriam pela doença. Isso me apavorou.

Mas hoje depois de muito esforço, pois o medo é tão difícil de combater como o preconceito, eu já estava mais ciente das doenças, as formas de contágio e mais que isso, quando pratico com os parceiros, sempre alerto da necessidade de proteção, não só com o outro, mas consigo.

A quinta pergunta foi:

5) COMO É A CENA LEATHER GAY NO BRASIL?

Estamos construindo uma cena leather desde há vinte anos e existem pessoas marcantes e atuantes neste processo (neste momento lembrei do Carlos Leatherboy, Heitor Werneck, do Cigarmaster, do Brenno Furrier,  Mauro Honda, do Max Lthr, do Zeca Lthr, do Brenno Furrier  e tantos outros amigos tão antigos e presentes) e que mesmo  tendo pouca gente no passado, com festas com menos de 10 pessoas, hoje em dia já existem algumas festas importantes e mensais (estava pensando na Projeto Luxúria, Eagle São Paulo, Upgrade Club, Rg Club, Dominatrix Augusta e Libertine Festival) e que no concurso do Brasil, quando ganhei o título de Mr Leather Brasil, tinha mais de 300 pessoas na festa, com gente até do lado de fora do bar, o que era inédito há 20 anos atrás.

E por fim, a sexta pergunta:

6) COMO É A CENA LEATHER GAY FEMININA?

Disse que este ainda era um campo a ser conquistado, que fico triste pelo fato do universo gay no Brasil ser tão segregado e que em bares de meninas, os meninos não vão e vice- versa. Isso ainda existe no Brasil, mas que mesmo assim, existe uma festa (Projeto Luxúria) em que as lésbicas misturam-se com os gays e vivem harmonicamente, o mesmo acontece em alguns bares, entre eles o Dominatrix e Libertine, mas que mesmo assim, não existe um lugar leather  direcionado para as lésbicas que gostam de couro e da cena BDSM.

O presidente da mesa perguntou se alguém tinha mais alguma pergunta…

Agradeceram eu ter vindo do Brasil para o concurso, que estavam felizes por esta conquista e  pelo país que estava sendo representado.

Fotografamos e pediram para eu me juntar ao grupo.

Depois todo o GRUPO F entrou na sala e fotografamos.

Quando recebi o score final fiquei sabendo que a minha colocação na entrevista foi de 4º lugar, dos 63 inscritos, esta sim uma grande vitória para um momento tão solene e que respondi em uma língua diferente da minha língua mãe.

E desta forma, o Brasil fez a sua história, para começarmos uma grande jornada.

 


ENGLISH VERSION

And the interview started …

Well, the chairman asked if I could start and if I was ready …

The first question:

1) WHAT IS YOUR FAVORITE CLOTHING PIECE?

Happiness stamped on my face, because this was the same contest question in Brazil, in fact, was also the first.

I replied that it was the leather jacket I was wearing, which was the first piece of leather of my life and that in fact it had been stolen from my uncle. It is that at the time he and his friends wore the jacket and I was already fascinated by men, even more bikers, young people, vanguards for their time, the prototype of male that I created and will always be the most desired for me: the MOTOQUEIRO with the 70’s jacket.

I told him that he came home one day, dropped his jacket, and I went with him. I hid for years under my mattress and even without understanding that desire because I was very young, always wore the jacket, thought of him and his friends and masturbated tirelessly, I know how many times and of course, enjoyed the jacket.

They really laughed, relaxed and had a good time, looked at each other and laughed a lot.

Then came the second question and in my head would be the last ..

2) WHY IS IT IMPORTANT FOR YOU TO BE THE MR INTERNATIONAL LEATHER?

I began by telling you that everything was very difficult from the beginning, first because I live in a small and prejudiced city, which is my hometown of Porto Alegre, which does not even have a leather movement, even today after 20 years of my beginning ..

Then I moved to São Paulo and here I remember well moments when I went to nightclubs (today it is said ballad) and in the courage, I was dressed in full leather and people looked at me, pointed and laughed or despised, and besides, he did not know anyone, he was an immigrant, without friends.

At this point I remembered how discriminatory I was and I began to cry.

They moved and also wept, all of them, without exception. It was touching.

And even choking, I said that being there was already my biggest personal victory, but winning the contest represents a visibility that my country needs, that Brazil is the country in the world where more gays are killed in the world simply because they are the who want to be, for the search for freedom or for their identity.

Today I am already an example for many people and this visibility will give an immeasurable strength in the pursuit of their dreams.

We were still crying, everyone!

Then one of the jurors said, “let’s ask a happy question”; and came the third:

3) YOU SAID YOU PRACTICE BDSM, WHAT IS YOUR FAVORITE PRACTICE?

Without a doubt, my greatest desire is to initiate people, to catch that person who has never had contact with this universe and to show a new world, that first sensation that causes many to tremble, others moan, others realize themselves sexually and many are liberated, not only in their fantasies, but come out sure of the beauty of their body, of their inner strength to have resisted or simply renewed with practices other than conventional sex.

I like younger guys, mainly because they have less prejudice, less fear and more openness to a new possibility. They suffer less from pain and give themselves more painfully. It is not the rule, but it is the most common that happens.

Then came the fourth question … ops, were not they two? – I thought … laughs!

4) WHAT IS YOUR GREATEST FEAR?

And contrary to all the ethically correct answers, I said that I was contracting some disease according to my practices. And so I explained …

When I started to get HIV it also had its beginning and there in my reality with zero gay friends and zero information, it was thought that it contracted the virus by the air or the kiss and in addition, some friends of the friends died by the disease. That terrified me.

But today after a lot of effort, because fear is as difficult to combat as prejudice, I was already more aware of the diseases, the forms of contagion and more than that, when I practice with partners, always alert to the need for protection, not only with the other, but with you.
The fifth question was:

5) HOW IS GAY LEATHER SCENE IN BRAZIL?

We have been building a leather scene for twenty years and there are people who are striking and active in this process (at this moment I remembered Carlos Leatherboy, Heitor Werneck, Mauro Honda, Max Lthr, Zeca, Cigarmaster, Brenno Furrier and so many other friends as old There are already some important and monthly parties (I was thinking about Eagle, Project Lust, Upgrade, Rg Bar, Dominatrix and Libertine) and that even though there were few people in the past, with parties of less than 10 people, in Brazil, when I won the title of Mr Leather Brazil, I had more than 300 people at the party, with people even outside the bar, which was unheard of 20 years ago.

And finally, the sixth question:

6) HOW IS THE LEATHER GAY FEMININE SCENE?

He said that this was still a field to be conquered, that I am saddened by the fact that the gay universe in Brazil is so segregated and that in girls’ bars, boys do not go and vice versa. This still exists in Brazil, but even so, there is a party (Project Lust) in which lesbians mingle with gays and live harmoniously, the same happens in some bars, among them the Dominatrix and Libertine, but that anyway , there is no leather place for lesbians who love leather and the BDSM scene.

Finally the chair asked if anyone had any more questions …

They thanked me for coming from Brazil for the contest, who were happy for this achievement and for the country being represented. We photographed and asked to join the group.

Then the whole GROUP F came into the room and we photographed.

When I received the final score I learned that my placement in the interview was 4th place, out of 63 enrolled, this is a great victory for a moment so solemn and that I answered in a language other than my mother tongue.

And in this way, Brazil made its history, to start a great journey.

 

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