Fantasias e fetiches fazem parte da vida sexual saudável tanto de pessoas cisgênero e heterossexuais quanto entre as pessoas LGBTQIA+ sendo que a fantasia se refere a capacidade de imaginar situações e cenas que nos excitam e os fetiches desejos menos usais, um pouco mais exclusivos.
O “normal” e o “patológico” em sexualidade acaba se guiando por uma normatividade das práticas sexuais baseada na falsa ideia de prática sexual reprodutiva como modelo. Essa perspectiva cria o pensamento de que o “correto” seria apenas a penetração do pênis na vagina, ignorando assim todas as outras milhões de possibilidades prazerosas, que julgadas equivocadamente, se convertem em erradas ou são invisibilizadas.
Ser menos frequente não é sinônimo de ser patológico. Existem inúmeras formas de sentir prazer e expressar a sexualidade, contudo graças aos códigos, crenças e valores que permeiam o imaginário social, muitos de nós acabamos travados, sentindo-nos culpados ou inadequados por determinadas formas de fazer sexo e sentir prazer. Tais crenças e valores são baseados numa normativa cishetero, genitalocêntrica, patriarcal e, lógico, excludente. Negar outras variações sexuais como uso de acessórios e substâncias, relação vulva-vulva, pênis-pênis, penetração anal, dentre outras, não faz com que elas não existam, mas as estigmatiza, resultando muitas vezes em culpa, medo e vergonha para quem as vive.
No decorrer da História as práticas sexuais foram conceituadas de diversas formas como, por exemplo, desvios sexuais, perversões e parafilias. Tudo isso influencia indiretamente na forma como fazemos sexo e sentimos prazer já que surgem questões que passam pelo crivo do que “pode” e do que “não pode”, do que é “certo” e do que seria “errado’, o que é “normal” e o que seria “perversão”; tudo isso vamos lembrar novamente, baseado em noções da hetrocisnormatividade.
A palavra “parafilia” foi introduzida inicialmente como qualquer interesse sexual intenso e persistente que não seja na estimulação genital ou carícias preliminares. Hoje em dia, o termo não representa um problema, mas sofre estigma por estar associado a preconceitos em relação às pessoas cuja manifestação do desejo seja “incomum”. Em 1980, dois pesquisadores (Gosselin e Wilson) propuseram a mudança do termo parafilia para “variações sexuais”, a fim de minimizar a associação de anormalidade ou patologia. Difere do Transtorno Parafílico que, segundo o CID 11, é uma parafilia em que o comportamento envolve quem não quer ou quem não seja capaz de consentir determinado ato sexual gerando sofrimento ou risco para os envolvidos.
Seja uma fantasia, um fetiche ou qualquer comportamento acerca da sexualidade, é imprescindível, assim como estipula a comunidade BDSM, que seja consensual, seguro e traga satisfação para todas as pessoas envolvidas. É importante estruturar negociações entre as partes durante qualquer prática ou relação sexual que podem ir do diálogo até a adoção de palavras-chave ou códigos, já que dependendo da prática, momentos de perigo podem acontecer sendo necessário interromper o que estão fazendo.
Não existe norma quando falamos em sexo.
Prazer cada um sente a sua própria maneira.
O mais importante é que existe consensualidade entre as partes envolvidas.
AUTOR
RIGLE GUIMARÃES
Psicólogo e Terapeuta Sexual com foco no público LGBT+ e abordagem de comportamentos sexuais variados.
Instagram: @psicorigle com conteúdo voltados a questões que vão da saúde mental à sexualidade.