Ultimamente vejo muitos defendendo que, contanto que o TOP tenha determinado, toda e qualquer situação (ainda que humilhante/degradante) pode ser vista como dominante.
Para esses, por exemplo, o TOP pode mandar a submissa o aprisionar, amarrar, chicotear, e ainda assim estará no comando, pois foi ele quem mandou.
Defendem que é ultrapassada a ideia de que o TOP é o ativo e o bottom o passivo na cena.
Devo concordar que ativo e passivo são insuficientes para entender a lógica por trás de uma cena de Dominação e submissão (D/s).
Para além das denominações acima, existe algo que parece definir melhor a posição de cada um em cena: quem está no controle.
Partindo desse pressuposto, em um primeiro momento seria possível afirmar que, quando o TOP determina algo, ele está no controle.
Todavia, é necessário questionar o que ele está determinando para analisar se, de fato, há controle.
Se o TOP “manda” o bottom o amarrar, por exemplo, o significado é claro: houve uma inversão de papeis (que nada tem a ver com gênero), na medida em que o então Dominante cedeu o controle da cena ao bottom, que agora passa a ter esse controle, diante da disponibilidade do outro.
Isso fica mais claro quando imaginamos uma abordagem policial (que não tem nada a ver com o BDSM, mas ajuda a clarear a ideia).
O policial normalmente manda o suspeito ficar de costas, ajoelhado/deitado e com as mãos para cima. O agente público faz isso para que o outro (suspeito) não possa oferecer resistência, ou seja, para que fique indefeso.
Embora, como disse, não tenha relação com o BDSM, observamos que existe, naturalmente, alguém que está no comando da situação (o policial) e alguém que está sendo submetido (o suspeito).
Porém, é importante destacar que o policial não está no comando só porque usa uma farda e possui o monopólio do uso da força (Weber), mas também (e principalmente) porque sua ATITUDE corresponde àquela esperada de uma autoridade.
Seria ilógico pensar que a autoridade policial, ao invés de agir daquela forma, adotasse uma postura complacente e permitisse a aproximação do suspeito em condições de igualdade ou superioridade.
Imagina o policial entregar sua arma, se ajoelhar no chão e depois dar “voz de abordagem” ao suspeito? Não tem nem lógica. Ele perderia completamente o controle da situação e certamente seria subjugado pelo suspeito.
Na minha visão, os papeis no BDSM devem obedecer semelhante (não idêntica) lógica.
Assim, não basta “mandar”, é necessário que a ordem tenha pertinência com a posição daquele que está “mandando”.
Ser TOP não é mandar qualquer coisa.
O que observo, lamentavelmente, é que muita gente tem vergonha de assumir que sente prazer na submissão também.
Noutros termos, deseja agir como submisso, mas utilizando o status de Dominador.
Por que a repulsa à posição submissa? Não seria essa uma atitude discriminatória e preconceituosa?
Existem posições que são submissas e ponto. E aqui não falo de sexo, mas de circunstâncias mesmo, que podem ser vistas nas mais variadas ocasiões.
Um exemplo que citei recentemente foi sobre a cerimônia de Lava Pés.
Novamente, relembro que isso não tem relação direta com o BDSM, porém podemos extrair algumas lições disso.
Na referida Cerimônia, o Papa (autoridade máxima da Igreja Católica), se ajoelha, lava e beija os pés de alguns fieis, em sinal de humildade (em outras palavras, ele se coloca “abaixo” daquelas pessoas).
O Papa Francisco costuma realizar esse “ritual” com indivíduos que estão presos, cumprindo pena, de modo a demonstrar ainda mais humildade e submissão.
De acordo com os religiosos , lavar os pés (atitude bastante simbólica em nosso meio) é sinal de serviço, de submissão, de bem-querer.
Observamos, com esse exemplo, algo muito simples: o que define a sua posição é o que você faz e não o título que você ostenta.
O Papa continua sendo Papa mesmo quando se ajoelha perante os fiéis? Continua! Porém naquele momento está se colocando em posição de submissão.
Neste ponto, é essencial esclarecer que não estou transformando o mundo em BDSM, apenas dando exemplos de como as circunstâncias e as atitudes são mais relevantes que os títulos.
Da mesma forma, o TOP que pede para ser amarrado, chicoteado, cuspido, humilhado (exemplos) continua sendo TOP, porém nesse momento se coloca em uma posição de submissão, eis que cede o controle/poder ao outro, o que faz de ambos switchers, já que possuem prazer tanto na Dominação quanto na submissão.
O prazer submisso não é apenas obedecer, mas estar em posições que reforcem essa condição.
Fiz uma pesquisa informal no meu Instagram esses dias, questionando se os bottoms entraram no BDSM com fantasias de amarrar o TOP, bater nele, fazer dele seu pet, dentre outras… 92% responderam que não e apenas 8% que sim.
Curiosamente, desses 8%, todos eram Switchers.
O resultado da pesquisa sugere o que venho tentando dizer desde o início… Existem posições/circunstâncias marcantes de submissão e outras que caracterizam a dominação.
Isso é tão óbvio e natural que realmente me causa estranheza quando leio alguma coisa no sentido de que o TOP pode apanhar, rastejar no chão, ser pet e ainda achar que está agindo como TOP.
Na minha visão, ser TOP não é apenas mandar, mas também ter postura de dominante e, principalmente, sentir prazer em dominar e submeter (o outro).
Se a pessoa possui prazer tanto dominando (em comando e atitudes) quanto se submetendo (seja em ordens ou atitudes), ela é switcher... Simplesmente isso!
Se uma pessoa gosta de se submeter sempre, é bottom.
Se gosta de dominar sempre, é TOP.
E se às vezes gosta de dominar e às vezes gosta de se submeter, é um Switcher!
Um esclarecimento óbvio, porém, necessário: limpar o chão da casa, lavar louça, obedecer a uma ordem policial, realizar exames de rotina, buscar um copo d’água, fazer uma massagem etc… nada disso tem a ver, em tese, com BDSM.
Então não queiram dizer que um TOP não poderia fazer esse tipo de coisa porque estaria saindo de sua posição de TOP, tendo em vista que estamos falando de posições dominantes e submissas NO CONTEXTO DA CENA BDSM e não na vida cotidiana/baunilha.
É indispensável analisar sempre o contexto das coisas.
Esses dias ouvi/li que o TOP que gosta de ser humilhado e de sentir dor é um TOP-masoquista ou TOP-submisso.
Interessante o neologismo, mas ainda prefiro o bom e velho Switcher.
AUTORA
DUDA
{duda}_VERDUGO
bottom
Posse do Senhor Verdugo
Moderadora do Portal www.senhorverdugo.com
IG: @duda_verdugo
Respostas de 4
Switcher tem nada a ver com isso, tem q parar com essas falas de q pessoas q são Má Resolvidas com suas posições são switchers, isso só aumenta o preconceito com a posição de sw
Onde está escrito que switchers são mal resolvidos?
Em qual linha está escrito isso?
O texto é EM DEFESA dos switchers!!!!
mas o que pensas de um TOP que curte primalplay pois gosta dos arranhões do bottom? Ele está em posição de dominação, mas está curtindo tudo que aquela cena envolve, inclusive receber arranhões de sua presa (e óbviamente não é qualquer força e lugar de arranhões que ele vai gostar), isso lhe faz switcher mesmo não gostando de ceder controle? Ou esse mesmo top que gosta de receber waxplay em fora de sessões, em contextos mais baunilhas , ensinando parceiros baunilha mais intimos a tecnica afinal a dor das velas a distancia é muito sutil? Eu sou exatamente esse cara e não me considero switcher pois não sinto (pelo menos não ainda) qualquer prazer em ser humilhado, receber jogos de impacto, ENTREGAR PODER a outra pessoa. Eu entendo o que voce diz quando diz que as pessoas tem vergonha ou aversão a serem submissos por uma questão talvez até machista, mas não acho que qualquer pisadinha pro lado do masoquismo te faça switcher automaticamente, o mundo não é só preto e branco, tampouco só preto, branco e um tom de cinza. Não tenho problemas em me descobrir como switcher no futuro, até seria interessante, entretanto acho que precisa mais que qualquer pisada fora de uma caixinha de como deve ser um dominante para ele ser chamado de switcher
Concordo com você. O melhor da prática do BDSM é poder viver a essência do seu tesão, seja ele a posição que for, com menos preocupação na nomenclatura e mais liberdade para o seu prazer.