[um prelúdio necessário, pois o óbvio não existe: todas as inferências e reflexões aqui dizem respeito a questões relacionadas com adultos explorando seus desejos sempre em um contexto no qual todos os envolvidos são capazes de oferecer consentimento ativo]
Olá amores, como vocês estão? Espero que bem!
Hoje queria fazer uma proposta diferente: trazer um relato pessoal baseado no texto que a querida Sra Storm trouxe no dia 12 sobre desejos. Você pode conferir ele aqui e super recomendo a leitura. Nele tem uma reflexão muito interessante sobre reconhecer nossos desejos, o que nem sempre é uma tarefa fácil.
E pensando sobre isso, queria compartilhar algumas reflexões e um relato com vocês.
Eu sempre digo que descobri o BDSM cedo demais, muito mais do que deveria. Muito mais do que recomendaria. Por sortes da vida, foi uma descoberta teórica, eu queria dar nome a algo que vibrava dentro de mim e eu não compreendia. Eu descobri o desejo pela hierarquia, pela submissão, pela antes de dar nome a ele.
Daí foi uma jornada de pesquisas, conversas, descobertas em sites e mais sites, até que um dia, ouvi a pergunta: você sabe o que é BDSM?
Naquele momento senti reverberar algo, me senti parte de algo que não me tornava uma estranha. Reconhecimento. Mas antes de reconhecer externamente, eu reconheci internamente. É muito mais fácil olhar para isso quando não temos, ainda, um olhar endurecido sobre a vida e nossas experiências.
O quanto você se permite, hoje, em olhar para dentro, entrar nessa “toca do coelho” e encarar, de forma genuína e sincera o que vai encontrar nesse espaço? E se mudar completamente certezas de toda uma vida? Soa assustador a princípio. Mas pode ser assustadoramente delicioso descobrir que é possível ainda se surpreender com seus desejos ao longo da vida.
Eu até hoje me permito deixar experiências desejantes em aberto. Poucas coisas digo que não tenho desejo e ponto. Digo hoje eu não tenho. Amanhã, quem sabe. Tem pouco tempo que descobri uma força interna dentro de mim extremamente forte que pulsa por hierofilia. Sim, quase aos 30 na época e descobrindo desejos novos vindo de uma brincadeira inocente e que ganhou uma proporção que não esperava. Surpreendente, inclusive.
Mas ok, isso veio por uma influência externa. Há muitos desejos que provavelmente estão aqui, dando de vez em quando uma cutucada e meu olhar desatento não me permite encontrá-los.
Fato é: quanto mais vamos caminhando na vida, mais vamos cristalizando nossas crenças. E o desejo muitas vezes não dialoga muito com essa ideia, sabia?
E aqui cabe a parte do relato confessional: nem sempre minha mente está aberta para isso.
Tem horas que encarar a quebra da cristalização de muitas crenças me coloca num lugar reativo. Aquieta o desejo. Suprime. Silencia. Deixa ele guardado. Mas ele é força, é corrente, tentar conter um mar revolto pode ser desastroso.
Um deles eu bati no peito pra falar: isso não vai vir a tona. Eu hoje olho para aquela pessoa que jurou ter controle sobre não desejar algo e rio, dou gargalhada, dá vontade de passar a mão na cabeça e falar: oh coração, se você precisa dizer isso, é porque o desejo já está ali.
Em uma metáfora: as vezes empurrar a bola para o fundo da piscina, tentando fazer com que ela não venha a superfície só faz com que ela retorne com mais força e bata na sua cara – e não da forma que uma masoca gosta. As vezes é melhor encará-lo para
Nem sempre o desejo é bonito. Nem sempre ele está de acordo com a moral (ainda que seja ético). Nem sempre ele vai estar de acordo com princípios Muitas vezes teremos conflitos entre o que passamos a vida toda aprendendo como princípios que deveríamos seguir e nem sempre condizem com as nossas crenças pessoais e, eventualmente, se chocam com nossos desejos.
Na verdade, aqui eu dou as mãos com Bataille: o erotismo é inevitavelmente transgressor. E negar a sua natureza é matar esse desejo. E se o desejo é essa força que nos move, qual o resultado sobre nós e nossa subjetividade de tentar adequá-lo a algo que não lhe cabe?
AUTORA
HACKING SEX
Nascido de uma ideia de mudar o sistema por dentro, aproveitando as brechas de vulnerabilidade para repensarmos e fortalecermos as concepções sobre (a)sexualidade(s), em constante (des)(re)construção, feito de forma coletiva. Construindo uma comunidade com o fortalecimento de todos os membros, abrindo espaços para trocas colaborativas de ideias, para que todos possamos crescer juntos no processo.
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Uma resposta
Há algum tempo me livrei do preconceito que eu tinha com a minha mente, que não me permitia gostar e desejar de formas diferentes em diferentes fases da vida… levou tempo, foi trabalhoso mas hoje eu entendo que é a melhor forma de se viver. Pode ser que hoje não me atraia, mas e amanhã? Somos seres em continua transformação e precisamos nos permitir isso pra sermos plenamente felizes. Nossas vidas mudam, nossos desejos acompanham as mudanças. E isso é tão bom!