Crossdresser Sissy – uma tentativa de explicação das motivações psicológicas para este comportamento
Dedicatória:
Dedico este artigo à minha Dona, a Senhora Ana Moura, que sempre me incentiva, estimula e ajuda nesta minha jornada de autodescoberta e autoconhecimento. Sem Ela eu jamais seria quem eu sou.
Agradecimentos:
Agradeço a Dom Barbudo por me abrir espaço para escrever, à Rainha Regys Araújo por uma inspiração muito feliz para este texto, e ao Senhor Lino Naderer por uma muito interessante sugestão de leitura.
Introdução:
O meio BDSM é bastante curioso e cheio de personagens, digamos, incomuns. Tanto é assim que costuma-se dizer que se tratam de fetiches que são classificados como Transtornos Parafílicos na classificação de Transtornos Psiquiátricos.
Neste universo, talvez graças à popularidade da série dos Tons de Cinza, conceitos como dominador e submissa são quase que lugar comum para as pessoas de fora do meio.
As Dominadoras, se bem que ainda carreguem uma carga de preconceito com sua identificação como profissionais do sexo, têm seu glamour e brilho, pois representam mulheres fortes e poderosas, que exercem seu poder sobre os homens.
Mas aqui surge uma pergunta mais complicada: e aquelas pessoas que tem uma identificação com agir como se fossem do sexo oposto? E mais, homens em geral buscando posições tipicamente femininas para serem suas? Onde entram eles nesse universo?
Sabemos que são as chamadas Sissies, claro, que são uma forma especial dos transtornos acima, o Transtorno transvéstico, que tem a ver também com a disforia de gênero e a Transexualidade.
Tudo isso é muito legal, mas, como sugerido em uma conversa de grupo pela Rainha Regys Araújo outro dia, “Mas acho que o fato de um homem heterossexual a sentir desejo de se vestir como uma senhora dos anos 50… Ainda e chocante até a amigos mais chegados”.
Consideradas por vezes aberrações cômicas, repugnantes ou até mesmo perigosas,
as travestis/crossdresser, muitas vezes, são repudiadas no mercado de trabalho e rejeitadas pelas próprias famílias, terminando por introjetar, de forma destrutiva, esta imagem de párias da sociedade.
Sofrendo de tanto preconceito, realmente esta é uma questão e tanto, e é o ponto central da existência da Sissy. O que está por trás do desejo de um homem, geralmente de meia-idade, de assumir esses papéis, e o que motiva essa preferência?
Então, pensando nisso, neste artigo vou tentar encontrar algumas respostas justamente para essa questão. Mas primeiro, vamos a algumas definições básicas, como sempre.
O que é ser Sissy?
Essa continua sendo uma pergunta inquietante, e muitas pessoas se confundem ao se deparar com ela, visto que não são capazes de definir essa forma de agir e, tampouco, são capazes de deixar de lado antigos preconceitos sobre o que é uma Sissy.
Temos, aliás, que fazer uma distinção entre o que seria uma Sissy Teórica, uma Sissy Imaginária, e uma Sissy Real!
A Sissy Teórica é um homem que, magicamente, se transforma e assume à perfeição as atitudes femininas e consegue, sem esforço algum, atender plenamente as expectativas que se tem para ela.
A Sissy Imaginária é o fruto de contos eróticos mal-traduzidos e de muito preconceito, geralmente é alguém que é forçada a sexo e obrigada contra a sua vontade a assumir posições femininas, geralmente em busca apenas de humilhação ou dor, como que em uma projeção de todo o preconceito homofóbico que o mundo carrega neste caso.
A Sissy Real é a pessoa de carne e osso que busca aprender a desempenhar o papel feminino a cada dia de sua jornada, mas que vive uma realidade complexa, profunda, habitando zonas profundas e obscuras, onde até mesmo o mais moderno conhecimento científico da mente não é capaz de tocar.
Já abordei algumas questões ligadas a este tema em um artigo leve sobre feminização em FEMINIZAÇÃO, CROSS E SISSY, E também falei com um pouco mais de seriedade sobre a questão em SISSY – SUBMISSÃO, SERVIDÃO, E… SUBVERSÃO!, mas nunca cheguei a abordar questões mais sérias, então acho que é uma boa ideia escrever algo que contemple uma visão mais científica sobre o que está por trás de ser uma Sissy.
O que sabemos?
A Sissy é um homem que se veste como mulher e que tem prazer em realizar tarefas associadas primordialmente às mulheres, seja por usos e costumes, seja por preconceitos e normas sociais, mas são essas as atividades que sentirá prazer em realizar.
Isso posto, podemos ver que a Sissy é uma forma particular de Crossdresser, e pode ser tratada, para fins de compreensão, em boa medida como tal.
Aqui vale lembrar que temos três personagens conhecidas que “compartilham”, então, este universo: a Transexual, a Travesti, e a Crossdresser.
E todas estão dentro desse espectro da Transexualidade, mas o que seria realmente isso?
Transexualidade – Transexuais e Travestis
(Na maioria dos países ocidentais, a palavra crossdresser paulatinamente substituiu na linguagem popular o termo travesti (este, em geral, designando profissionais do sexo que, também feminizam seus corpos).
Para se falar de transexualidade ou transexualismo é preciso entender as diferenças entre gênero e identidade de gênero. Uma pessoa nasce, biologicamente, com um gênero, feminino ou masculino; um gênero atribuído segundo um órgão sexual e um aparelho reprodutor.
Mas nem todo mundo se reconhece no seu gênero sexual biológico. Há pessoas que se identificam com o sexo oposto ao seu e querem ser reconhecidas como alguém que pertence a esse “sexo psicológico”, e não como o que dita a morfologia corporal.
Atualmente, para ser diagnosticada como uma pessoa transexual, há pelo menos três fatores indispensáveis: o desejo de viver e ser aceita como uma pessoa do sexo oposto, optando pela transição através da terapia de reposição hormonal e cirurgia; que este desejo seja persistente e acompanhe a pessoa há, pelo menos, dois anos; que a transexualidade não seja sintoma de algum transtorno mental prévio.
Então, segundo essa definição, a Sissy não se enquadra exatamente de um caso de transexualidade, já que estamos falando de homens que não buscam uma transição, apenas uma aparência e uma experiência. Assim, podemos dizer que pode ser quer seja outra classe de manifestação, ou podemos compreender a Sissy como um ser único?
Quando olhamos a moderna compressão do Transexualismo, vemos que a origem do transexualismo permanece desconhecida, mas Stoller (1982) relata no livro A Experiência Transexual os resultados de seus estudos com transexuais, que o levaram a desenvolver uma teoria não biológica para a gênese do transexualismo.
Ele concluiu que há uma determinada configuração familiar que produz o transexual masculino. Somente com a reunião de quatro fatores ele poderia acontecer: mãe bissexual; pai ausente física e psicologicamente; um longo período de união ininterrupto entre mãe e filho e a beleza especial do menino. Para ele, a mãe do menino transexual é uma mulher que não pôde desenvolver sua feminilidade e tem uma intensa inveja do pênis, colocando seu filho no lugar desse pênis desejado. A intensa aproximação com a mãe leva a um desenvolvimento não traumático e não conflituoso de feminilidade no filho. A ausência do pai leva à impossibilidade de identificação com ele e com isso à impossibilidade de desenvolvimento da masculinidade. Dentro dessa visão, o transexualismo não é uma psicose e a ideia de pertencer a outro sexo não é um delírio, mas algo como uma ilusão à qual a criança foi levada a acreditar.
Além disso, o transexual masculino não chega a viver o conflito edipiano, pois não precisa rivalizar com o pai, tendo sua mãe totalmente com ele. A criança segue o caminho de ser uma extensão da mãe, e esta o tem como uma coisa sua e não como uma pessoa. Stoller (1993) apresenta uma classificação diferencial para os homens transexuais: o transexualismo primário e o transexualismo secundário. Os transexuais primários são homens anatômica e fisiologicamente normais, com aparência feminina muito natural. Relatam uma história de terem sido femininos por toda a sua vida, sem episódios de masculinidade, ou mesmo comprometimentos transitórios com papéis tipicamente masculinos. Desde a tenra idade queriam vestir-se e viver exclusivamente como mulheres. Em geral não têm vida sexual ativa devido ao constrangimento que sentem em relação aos seus genitais. São a esses transexuais que Stoller se refere quando delimitou a configuração familiar descrita acima. Os transexuais secundários apresentam uma história de vida diferente daquela dos transexuais primários, pois o comportamento de gênero cruzado não aparece no início da infância. É pontuado com episódios de comportamento masculino comum e está permeado de experiências de prazer com os genitais masculinos.
Pelo que vemos, então, a Sissy estaria em algum lugar dentro desse grupo que se conhece hoje como um transexual secundário.
Neste sentido, Freud concebeu o desenvolvimento humano como a história da sexualidade, dividindo-a em fases: oral, anal, fálica e genital (puberdade). Para ele, o desenvolvimento de uma pessoa é determinado pela forte presença de erogenidade no bebê humano, que caminha do autoerotismo, até as relações objetais da idade adulta. Para Freud, o menino tem um caminho natural para o desenvolvimento da identidade masculina, o que hoje é chamado de identidade de gênero masculina conforme Stoller (l982), mas precisa de que a relação com o pai seja facilitadora de identificações com ele. Acredita-se hoje que esse caminho está longe de ser natural e o menino encontra grandes percalços até chegar ao estabelecimento de sua identidade, tendo sempre riscos de um retorno, seja a uma feminilidade vivida no intenso contato com a mãe, segundo Stoller (1982), seja a desejos passivos vividos em relação ao pai, segundo Ceccarelli (1998). Essa identificação necessária a todo o desenvolvimento humano, e particularmente ao estabelecimento da identidade masculina, tem fortes relações com a forma pela qual o complexo de Édipo foi vivido. Segundo Ceccarelli (1998), … uma falha do pai em sua função de objeto identificatório – provavelmente devido a conflitos identificatórios deste pai com o seu próprio pai, um conflito transgeracional – impede que o filho experiencie o complexo de Édipo em sua forma completa, o que terá consequências na construção de sua masculinidade. Podemos pensar que o transexual masculino vive uma estreita relação com a mãe e sofre uma ausência paterna, que o impossibilita de fazer uma identificação com o masculino e o impede de vivenciar a conflitiva da situação edípica. Se não pode ser o falo para sua mãe, deverá ser como ela, faz-se então uma identificação com o feminino. (…) Diferentemente do perverso, o transexual está convencido, como que num delírio, que pertence ao outro sexo e vive na realidade, um árduo trabalho na busca dessa transformação. (…)
Crossdressing Masculino e a visão psicanalítica
Tendo visto, então, o que leva ao transexualismo, seus mecanismos de formação, ainda não conseguimos descrever quem é a Sissy que queremos compreender. Como sabemos de sua identificação quase perfeita como o Crossdresser, vejamos o que podemos compreender sobre a Crossdresser à luz da moderna ciência, então.
Foi Magnus Hirschfeld, em 1910, que cunhou o termo travestismo para descrever pessoas que têm compulsão (urge) em se vestir com roupas do sexo oposto.
Havelock Ellis propôs o termo “eonismo” para a mesma condição assim chamada devido ao Chevalier d’Eon de Beaumont, um conhecido travesti da corte de Louis XV. Desta forma, Ellis queria usar o mesmo critério utilizado nos termos sadismo e masoquismo, que se originaram de seus famosos expoentes em seus respectivos desvios: o Marques francês (mais tarde conde) Donatien de Sade, e o escritor austríaco, Leopold von Sacher-Masoch e dedicou-se durante um longo período à realização de uma pesquisa exploratória e participativa sobre a questão. Seu livro “TRANSVESTITES The Erotic Drive to Cross-Dress”, apesar de escrito em 1910, apresenta uma visão bastante moderna sobre o travestismo. Para além da questão científica e pessoal, havia também na motivação de Hirschfeld um aspecto político. A homossexualidade e manifestações tais como o travestismo eram consideradas comportamentos fora da lei (inclusive passíveis de prisão), assim, para o psiquiatra alemão era importante mostrar que, tanto a homossexualidade quanto o travestismo, não deveriam ser classificados como doenças, nem serem considerados “opções sexuais” sobre as quais o sujeito tivesse qualquer poder de escolha. Hirschfeld explica o travestismo como categoria própria, diferentemente dos psiquiatras da época que o encaravam como um aspecto da homossexualidade. Ao analisar dezessete casos (um deles de travestismo feminino), fez o diagnóstico diferencial entre o travestismo e as eventuais associações deste com o masoquismo, fetichismo, homossexualidade, ilusão da metamorfose sexual e outros “desvios sexuais”.
R. F. Doctor procura descrever o desenvolvimento do travestismo e sua relação com o transexualismo (uma pequena minoria dos travestis envereda por se tornarem transexuais secundários). Para ele, haveria um sistema de self mestre que se relaciona e é influenciado pelos seus diversos subsistemas de “self” (que são autônomos, mas que, em conjunto, o compõem). A identidade de gênero seria um grande subsistema. No travestismo haveria então cinco estágios: O primeiro que engloba fatores antecedentes diversos, tais como experiência de vestir-se com uma ou mais peças de roupa e ter prazer. O segundo implica um crossdressing fetichista (na pré-adolescência). Os casos de início de crossdressing não-fetichista na infância seriam preditivos de um futuro crossdressing adulto pouco fetichista e no qual importaria muito mais a identidade transgênero. O terceiro estágio abarcaria a progressiva autonomização e libertação da supervisão parental, o uso público de roupas femininas e levaria à paulatina formação de uma identidade transgênero. Assumir um nome feminino seria neste percurso um rito de passagem que testemunharia finalmente uma identidade transgênero que emergiu. Este subsistema de identidade transgênero funcionaria como um subsistema de identidade que operaria de modo conflituoso com o sistema de self primário podendo ocorrer fantasias de ser mulher e/ou de manter relações sexuais com homens. Nesta fase, muitas das autopercepções são incompatíveis entre si. Na quarta etapa, estas dissonâncias cognitivas precisam encontrar uma resolução a qual pode ser a de integrar o subsistema de identidade transgênero no sistema de self tornando-a egossintônica e altamente valorizada pelo sujeito. Este seria o estágio final dos travestis propriamente ditos. Outra possibilidade, não muito satisfatória, seria uma quinta fase adicional, na qual ocorreria uma dissociação desta identidade transgênero. Nestes casos, a identidade transgênero pode se tornar mais forte, assumir o controle e o sujeito passaria, então, a levar uma vida como mulher em tempo integral e, eventualmente evoluiria para tratamentos hormonais e cirurgia de redesignação de gênero. Teríamos, então, os transexuais secundários. Assim, os travestis seriam divididos em categorias segundo as fases 2, 3 e 4, podendo os travestis mais fetichistas estarem desenvolvendo uma identidade transgênero ou a identidade transgênero poderia ter sido desenvolvida a ponto de ser inteiramente integrada no sistema de self. (…) Os travestis nos estágios 2 e 3 tenderão a se definir como homens heterossexuais e a preferir mulheres heterossexuais como parceiras e no estágio 4 talvez tenham uma progressiva preferência por homens. (…)
Aqui parece que começamos a ver, então, mais claramente o Crossdresser, e, por conseguinte, começam a surgir mais claramente as características de nossa querida Sissy.
Bullough, V. e Bullough, B em Crossdressing: Sexo e Gênero frisam que não cabe classificar o crossdressing como um transtorno em si e discutem a utilização do termo “fetiche” para descrever os travestis que têm prazer sexual em se vestir de mulher, pois o termo estaria sendo empregado de modo impreciso, já que a roupa em si não os excita e, sim, estarem no papel de mulheres.
Buhrich e McConaghy em Comportamento pré-adulto feminino de travestis masculinos pesquisaram três grupos de homens que tinham passado por fases de travestismo fetichista. Os travestis nucleares (se satisfaziam em apenas prosseguir com o travestismo ocasionalmente, mas viviam como homens heterossexuais), os travestis marginais (pretendiam se feminizar parcialmente e eventualmente viver a maior parte do tempo como mulheres) e os transexuais secundários os quais os autores sugerem denominá-los de transexuais fetichistas (estes queriam se submeter a uma cirurgia de redesignação de gênero). (…)
Para a Dra. Adriana Portas e a Lic. Patricia Lang em Abordagem ao Travestismo e o Transexualismo na Sociedade Atual o travestismo/transexualismo pode ser classificado em: 1. Pseudo-travesti: aquele que adota a identidade do outro somente ocasionalmente; 2. Travestismo fetichista: o indivíduo adota os hábitos do outro sexo de forma frequente e não passa por muitos conflitos; 3. Travestismo verdadeiro: veste as roupas do outro sexo todas as vezes que tem oportunidade. Sua identidade sexual é a de seu próprio sexo ainda que sua convicção desta seja menor do que nos dois tipos acima descritos;
Como a maioria dos crossdressers se define como heterossexual, ainda que tenha fantasias homoeróticas e que cerca de 30 a 50% deles já tiveram relações sexuais com homens, nem todos os crossdressers são fetichistas e diversos transexuais secundários o são. Frequentemente, os crossdressers, em geral, constituem-se e transitam por quatro fases, indo eventualmente até uma quinta da qual retornam para uma das anteriores: 1) Uma primeira experiência infantil de vestir-se com uma ou mais peças de roupa e ficar excitado, embora ainda sem capacidade sexual desenvolvida; 2) Uma segunda fase que implica num crossdressing fetichista (na pré-adolescência) ou, mais raramente, um crossdressing infantil não-fetichista que seria preditivo de um futuro crossdressing adulto pouco fetichista e no qual importaria muito mais a identidade transgênero do que o prazer sexual; 3) Uma terceira fase que abarcaria a progressiva libertação da supervisão parental, o uso público de roupas femininas e a paulatina formação de uma identidade transgênero, assumindo eventualmente um nome feminino (um rito de passagem para a identidade transgênero). Neste período poderiam ocorrer fantasias de ser mulher e/ou de manter relações sexuais com homens. Nesta fase, muitas das autopercepções são incompatíveis entre si. 4) Na quarta fase, estas dissonâncias cognitivas precisam encontrar uma resolução a qual pode ser de integrar a identidade transgênero de forma egossintônica e altamente valorizada pelo sujeito. Este seria o estágio final dos travestis propriamente ditos. 5) Outra possibilidade, não muito satisfatória, seria uma quinta fase adicional na qual ocorreria uma dissociação desta identidade transgênero. Nestes casos, a identidade transgênero pode se tornar mais forte, assumir o controle e o sujeito passa a levar uma vida como mulher em tempo integral, podendo eventualmente evoluir para tratamentos hormonais e cirurgia de redesignação de gênero. Teríamos, assim, os transexuais secundários.
Stoller, apesar de ter se dedicado mais a pacientes transexuais, também discute o travestismo e distingue sete grupos de travestismo em homens: 1)Travestismo fetichista: Nestes casos, colocar roupas do sexo oposto produz excitação sexual que, geralmente, leva à masturbação e ao orgasmo. 2) Transexualismo: No transexualismo, o travestismo também ocorreria, mas de modo diferente. O transexual não tem prazer sexual na roupa; não alterna períodos de masculinidade e feminilidade; não é afeminado, sim, feminino; não tem na infância períodos de masculinidade, pois desde o início é menina; não consegue manter relações sexuais com parceiros do sexo oposto; prefere homens masculinos puros; somente aceita parceiros que não se interessem pelo seu pênis; raramente tem orgasmos e ,quando os tem, a fantasia é de que este está ocorrendo na vagina; o desejo pela mudança de sexo nunca diminui; existe uma tentativa fundamental de estabelecer e manter uma identidade de gênero. 3) Homossexualidade Efeminada: Na homossexualidade efeminada, o interesse pela vestimenta feminina seria intermitente a duração curta e não provocaria excitação genital. Seriam indivíduos afeminados e não femininos, homossexuais confessos e, embora se identifiquem com a mulher, ao mesmo tempo, sentiriam raiva e ódio dela. 4) Psicóticos Patentes, Incertos e Latentes: O quadro travéstico nos psicóticos seria caótico, diferentemente dos transexuais, que são possuídos por uma identidade coerente. 5) Grupos Mistos: Neste segmento, estariam os indivíduos que possuem dois ou mais atributos dos grupos acima. Por exemplo, casos em que existe uma forte mistura de tendências fetichistas, homossexuais, heterossexuais e transexuais – todas ao mesmo tempo, etc. 6) Travestismo Biologicamente Induzido: Grupo heterogêneo no qual forças biológicas são sentidas como causadoras do travestismo sem levar em conta as experiências da infância e a estrutura de caráter produzida pelo ambiente. As causas podem ser: hipogonadismo congênito, doenças do lobo temporal, etc. 7) Travestismo Casual: É aquele que, como o próprio nome diz, é transitório casual e não ocorre patologia posterior. Por exemplo, homens que se divertem no carnaval, fantasiados grotescamente como mulheres.
Aparência é Vida! A Escravidão da Estética Feminina
Joël Dor, especificamente, em seu livro Clínica Psicanalítica, capítulo 9 – “A Servidão Estética do Travesti” estabelece sua tese central em torno do plano da servidão especular e corporal do travesti, ou seja, de particularidades psíquicas em relação às imposições estéticas próprias do travestismo. O autor ressalta que o travesti estaria sempre a acentuar o fato “de que a feminilidade reduz-se somente aos signos com os quais os homens se revestem”. Segundo o autor, em nome desta paródia do feminino, o travesti “se condenaria a ser escravo da estética feminina” e esta paródia feminina se sustenta sobre uma lógica psíquica própria do travestismo. Diz ainda que o travesti se apresenta tal como a mãe deveria ser. Isto justificaria porque um bom número de travestis mantém relações sexuais com mulheres de maneira análoga aos homens. Joël Dor distingue duas séries de fenômenos. A primeira designa de imposições especulares e a segunda, de imposições estéticas locais/imposições corporais. A primeira refere-se à servidão do travesti, à sua própria representação confrontada ao seu olhar no qual ele se seduz, fascina a si próprio na qualidade de mulher. Quanto às imposições estéticas locais, a “necessidade de iludir tem força de lei”. Estas imposições referem-se para Joël Dor os manejos e dispositivos da transformação travéstica, por exemplo: depilação, uso de hormônios, maquiagem, lingerie, etc. Neste quesito, Joël Dor ressalta os aspectos impositivos e, por vezes, torturantes do “empreendimento da paródia de adesão à feminilidade”. Ainda faz parte deste eixo central a ideia de que é necessária uma garantia ternária da atribuição fálica pelo olhar do outro. Daí, a dimensão que se traduziria em uma servidão implacável às imposições estéticas para sustentar tanto o olhar do outro quanto o olhar especular do próprio sujeito.
Sexo é Tudo, ou não…
Também foi o médico alemão Magnus Hirschfeld que, em 1923, cunhou o termo transexualismo, (…) transexual se refere aos indivíduos que experienciam uma enorme discrepância entre seu sexo biológico e o sexo ao qual sentem pertencer. Os transexuais masculinos podem ser de dois tipos: primário ou secundário. No caso do transexualismo masculino primário, são indivíduos que nascem com o sexo biológico masculino, sem qualquer problema anatômico ou endócrino, mas desenvolvem desde cedo uma identidade de gênero feminina. (…) Quanto ao transexualismo masculino secundário, embora também possa ter alguns momentos na infância de maior identificação com as mulheres, seu comportamento e identidade permanecem, por um longo período, masculinos. Seu conflito de gênero aparecerá somente muito mais tarde, na adolescência, até mesmo na idade adulta ou até na terceira idade. Muitas vezes, estes indivíduos vivem confusos quanto aos seus sentimentos e passam por uma fase típica do crossdressing masculino. Chegam ao casamento e mantém seu comportamento masculino em paralelo a um crossdressing, por vezes, acompanhado de excitação sexual (travestismo fetichista). Embora seu comportamento seja homossexual, sua identidade e erotismo não o são. A identidade de gênero, passada a fase de confusão é nitidamente feminina. (…)
Diferentes Formas de Erotismo
Quando se relaciona com uma mulher, o crossdresser relata dois tipos de vivências. Uma, é semelhante à do padrão heterossexual masculina. A outra, é própria do erotismo crossdresser. Baseia em uma identificação com a mulher com a qual ele, o crossdresser, está se relacionando, sem, contudo, corresponder nem ao erotismo heterossexual feminino, nem ao erotismo homossexual masculino. Na verdade, quando está se identificando com a mulher com a qual simultaneamente está se relacionando, o crossdresser – assim como muitos homens heterossexuais – imagina, por projeção, que a mulher esteja tendo a respeito de si própria o mesmo prazer visual, tátil e imaginário que um homem heterossexual tem por ela. Assim, para ele, esta mulher imaginada sentiria os mesmos prazeres que um homem, eventualmente, sentiria ao possuí-la ou ao desejá-la, isto é, ela se excitaria com visões que na realidade só um homem pode ter da mulher. O prazer que ele imagina ser o prazer que uma mulher tem, é muito diferente dos relatos de sensações descritos por mulheres reais.
No segundo momento, aquele em que o crossdresser está como “mulher” e, eventualmente, em fantasia ou, de fato, relaciona-se com um homem. Como ele cria uma imagem de mulher a qual ele próprio compôs e incorporou a partir das mulheres que passaram por sua vida, ele goza por meio do que imagina ser o prazer que este homem está tendo com esta “mulher” (ele mesmo). Neste momento em que o crossdresser está travestido de mulher, vive, em paralelo, os prazeres emanados de um sítio de gozo localizado na “mulher” em que está encarnando. Além disso, o crossdresser eventualmente, terá o prazer de ser penetrado, mas não necessariamente por um homem. Pode ser por um consolo usado por uma mulher ou por um vibrador que ele mesmo, o crossdresser, manipula. Entretanto, seja ao ser penetrado por um homem ou por uma mulher, em geral, o prazer anal é derivado das pulsões parciais e zonas erógenas e não inclui como sujeito o parceiro masculino. Mobilizam-se sítios auto-eróticos e pulsões parciais: prazer masturbatório, anal, escópico, etc.
Os crossdressers não relatam prazer pelo contato com os atributos masculinos propriamente ditos, ao contrário, em geral se incomodam com a barba, os músculos, o cheiro, etc. Não indicam sentir paixão ou se entregar sexualmente aos atributos masculinos, enfim, não narram admirar os homens, ao contrário, sua visão sobre o masculino é, de modo geral, negativa em muitos aspectos. É importante aqui ressaltar a diferença existente entre o erotismo crossdresser e os erotismos homossexual masculino e o heterossexual feminino os quais, cada um, a seu modo, derivam muito prazer dos atributos masculinos. A este erotismo, caracterizado por uma encarnação narcísica ao qual denominamos de erotismo crossdresser, não perpassa somente as relações sexuais. Com a evolução do crossdressing na vida do sujeito, ele passa a sensualizar diversos aspectos que imagina ser o cotidiano feminino e desfruta de prazer então ao passear vestida de mulher, ir ao shopping, ao cinema, restaurantes, supermercados e etc. Deste modo, os mesmos mecanismos de encarnação e identificação secundária cruzada são mobilizados, mas agora aplicados a outros contextos que não são diretamente sexuais e sim sensuais e eróticos. (…)
Estar Mulher e Servir uma Mulher: Desejo ou Necessidade?
Chama atenção a frequência com que os crossdressers relatam uma correlação entre frustrações e o surgimento da urge de se travestir (e o alívio e consolo que esta atividade lhes proporciona). Paralelamente, observa-se que, em geral, nos momentos em que os crossdressers estão envolvidos com suas carreiras e obtendo algum sucesso, a urge não aparece ou aparece mais raramente. (…) Outro ponto fundamental é o lugar que ocupa em seu imaginário e na sua psicodinâmica a mulher com pênis. É recorrente no meio psicanalítico a ideia de que o crossdresser estaria restaurando o que a mãe não tem e deveria ter, negando, assim, de forma primitiva e concreta a castração na sua manifestação mais visível e direta (a ausência do pênis na mãe). (…) O que é enfatizado é o poder de sedução da mulher e o prazer evocado por sua sensualidade.
Teorias Psicanalíticas sobre o Crossdressing
A maioria dos crossdressers/travestis aprecia ser vista como “bela e atraente”, relatando sentir prazer de cunho masturbatório e autossuficiente, proporcionado pela experiência de se verem “montadas” diante do espelho. O olhar do outro é um acréscimo de prazer, não uma condição para o gozo, salvo se considerarmos o olhar do próprio crossdresser/travesti como a introjeção do olhar do Outro. Portanto, em certo aspecto de sua vida erótica, o crossdresser realmente se representa como o falo da mãe, na medida em que sua simples existência como “mulher” bastaria para satisfizer o desejo do Outro, mas não como o falo que a mãe deveria ter. (…)
Doentes de pedra? Ou ignoradas pela ciência?
Um homem que quer se tornar mulher e mostra que psiquicamente é uma mulher, acaba por ser aceito, enquanto os crossdressers são considerados inadequados, eventualmente por apresentarem quadros de perversão sexual, ou por se considerar que seus pedidos são inconsistentes. Neste sentido, cabe a pergunta: por que o pedido de um transexual seria mais legítimo ou menos passível de arrependimentos do que aquele de um crossdresser que esteja na fase mais exacerbada, e que deseja viver como mulher? Cabe ainda abordar outro ponto: as classificações psiquiátricas do DSM-IV e CID-10. Estas consideram o travestismo como um “distúrbio de identidade de gênero” e trazem subcategorias quanto aos tipos de travestismo (fetichista e intermitente) que parecem pouco adequadas ao fenômeno.
Embora a maioria deles – se pudesse fazê-lo sem sofrer sanções sociais – desejasse viver definitivamente como mulher, permanece com a ideia de continuar a ser também homem (ao menos na alma). Até nas fases em que o crossdresser mais seriamente aventa a possibilidade de uma cirurgia de redesignação de gênero, jamais a consciência masculina e o modo masculino de erotizar são abandonados. Aparentemente, a maioria dos crossdressers gostaria de viver a fase de juventude como mulher sem perder a condição de poder alternadamente ser homem.
Mecanismos de compensação, defesa e adaptação
Como já vimos, então, o medo de sanções sociais está sempre presente, e isso acaba desencadeando mecanismos de defesa muito poderosos também nas Crossdresser. Lembremos que elas são consideradas por vezes aberrações cômicas, repugnantes ou até mesmo perigosas, e que muitas vezes, são repudiadas no mercado de trabalho e rejeitadas pelas próprias famílias, terminando por introjetar, de forma destrutiva, esta imagem de párias da sociedade.
E vale também lembrar que os antigos estigmas e os velhos preconceitos ainda estão presentes, e que o fato da OMS haver retirado o transexualismo da lista de distúrbios mentais em 2018 não tem o condão mágico de apagar uma vida inteira de medo, dor, sofrimento e vergonha. Sendo assim, muitas delas, por muito tempo usam de artifícios para a autoproteção.
Como as crossdressers (e algumas pessoas com disforia de género) lidam com a sua situação? Normalmente procuram afastar de si toda e qualquer suspeita de serem “diferentes”, praticando atividades ou assumindo comportamentos tipicamente associados ao género que lhes foi atribuído à nascença. Usam de todos os mecanismos de defesa que possam, como o Recalcamento ou Repressão, a Negação, a Regressão, o Deslocamento, a Projeção, o Isolamento, a Sublimação e a Formação reativa.
Embora isto não seja verdade para os chamados transexuais primários (aqueles que desde a mais tenra infância se identificam com o género oposto ao que lhes foi atribuído e que passam toda a sua vida — desde a infância à idade adulta — procurando desesperadamente para uma “solução” para a sua condição), nos casos restantes este é o mecanismo de compensação habitual.
No entanto, é frequente adotarem comportamentos machistas, agressivos, por vezes até ridiculamente homofóbicos (e transfóbicos) quando em público. Podem, de certa forma, ser mais masculinos do que a maioria dos restantes homens, como forma de tentativa de sublimar a questão ou calar os desejos, via exacerbação do oposto, como bem indicado no livro “My Husband Wears My Clothes”, de Peggy J. Rudd.
O Complexo Materno
Considerando, então, o que vimos das quatro condições da transexualidade, temos ainda que pensar sobre como a Crossdresser se relaciona com sua mãe, que será, para ela, seu padrão para o Espelho da formação dessa identidade feminina.
O complexo materno engloba todos os efeitos psicoenergéticos do arquétipo materno e da imagem materna, tendo efeitos diferentes no filho e na filha. A diferença de sexo entre mãe e filho, mudará o contexto do complexo materno em relação ao que acontece com a filha. A mãe, para o homem é, além de mãe, o primeiro receptáculo da projeção da sua anima. Assim, salienta Jung, “para o homem a mãe é o tipo de algo estranho, ainda a ser vivenciado e preenchido pelo mundo imagístico do inconsciente latente”.
Na mulher, o complexo materno poderá incentivar exageradamente o instinto materno ou inibi-lo profundamente. No homem, entretanto, haverá uma deformação do instinto masculino por uma sexualização anormal. Segundo Jung, os efeitos do complexo materno no filho, poderão redundar nos seguintes distúrbios psíquicos: homossexualismo, dom-juanismo, impotência sexual. No homossexualismo a heterossexualidade do filho fica presa à mãe de forma inconsciente.
Como se pode ver, a constelação de um complexo materno no homem poderá trazer-lhe problemas que, se não observados e trabalhados adequadamente, destruirão a sua vida ou pelo menos atrapalharão de forma impiedosa o seu desenvolvimento e sua maturidade psicológica.
Ainda Mais?
Vale destacar que os estímulos positivos e negativos behavioristas também podem estar presentes na solidificação dessa personalidades, quando lembramos dos quatro pontos que levam ao surgimento da característica transexual: mãe bissexual; pai ausente física e psicologicamente; um longo período de união ininterrupto entre mãe e filho e a beleza especial do menino.
Além dessa mãe ser uma mulher que não pôde desenvolver sua feminilidade e tem uma intensa inveja do pênis, pode haver também reforços e estímulos positivos, conforme definido em behaviorismo, dados por essa mãe ao filho para que desempenhe papéis femininos, ainda que inconscientemente, seja através de comparações negativas com o desempenho de uma irmã mais velha, seja mesmo elogiando essa irmã mais velha e a recompensando, enfim, não bastam as quatro condições, mas elas podem ser exacerbadas e levar a um desenvolvimento da condição de transexualidade secundária no filho.
A psiquê da Sissy
A Sissy, então, está na categoria dos transexuais secundários, nas fases 2 e 3, e tenderão a se definir como homens heterossexuais e a preferir mulheres heterossexuais como parceiras. Elas também têm prazer sexual em estarem no papel de mulheres, naquilo que vimos como a terceira fase, que abarca a progressiva libertação da supervisão parental, o uso público de roupas femininas e a paulatina formação de uma identidade transgênero, assumindo eventualmente um nome feminino.
Como se identificam com essa realidade mais próxima ao universo da mãe cuidadora, buscam desenvolver também essas habilidades, seja cuidando do espaço, ou da alimentação, em funções tipicamente desempenhadas por mulheres como suas mães e avós.
E aqui cabe destacar que as pessoas que usam o nome Sissy para se apresentar com calcinhas fio-dental sobre nádegas peludas em fotos na internet talvez sejam transexuais secundários que vivem o Travestismo fetichista, para os quais colocar roupas do sexo oposto produz excitação sexual que, geralmente, leva à masturbação e ao orgasmo.
Estes, devido aos mecanismos de repressão como dito antes, acabam por precisar muitas vezes de parceiros que os “forcem” a realizar seus desejos de travestismo, mas nunca terão a completude da imagem, pois não ultrapassam a fase do travestismo fetichista.
A Sissy e seus desejos (não sexuais!)
A Sissy, como as Crossdressers , têm então um erotismo, caracterizado por uma encarnação narcísica, que passa a sensualizar diversos aspectos que imagina ser o cotidiano feminino e desfruta de prazer então ao passear vestida de mulher, ir ao shopping, ao cinema, restaurantes, supermercados e etc. Assim, os mesmos mecanismos de encarnação e identificação secundária cruzada são aplicados a outros contextos que não são diretamente sexuais e sim sensuais e eróticos.
Como o travesti, a Sissy também acentua o fato “de que a feminilidade reduz-se somente aos signos com os quais os homens se revestem” e “se condena a ser escrava da estética feminina” e segue fielmente as imposições estéticas locais, a “necessidade de iludir tendo força de lei”, o chamado estado de “passabilidade”. Estas imposições referem-se aos manejos e dispositivos da transformação travéstica, por exemplo: depilação, uso de hormônios, maquiagem, lingerie, etc., os chamados aspectos impositivos e, por vezes, torturantes do “empreendimento da paródia de adesão à feminilidade”. Ainda faz parte deste eixo central a apreciação pelo olhar do outro. Daí, essa servidão implacável às imposições estéticas para sustentar tanto o olhar do outro quanto o olhar próprio no espelho.
Também por causa de sua identificação com mulheres fortes, via a imagem da própria mãe, tem uma predileção por servir mulheres, ainda que isso também possa ser atribuído a sua heterossexualidade.
Tem Jeito?
Voltando ao sugerido em uma conversa de grupo pela Rainha Regys Araújo outro dia: “Mas acho que o fato de um homem heterossexual sentir desejo de se vestir como uma senhora dos anos 50… Ainda e chocante ate a amigos mais chegados”.
Podemos descrever, podemos explicar, mas mesmo a medicina diz simplesmente o seguinte:
Travestismo é uma forma de parafilia. Usar roupas do sexo oposto está associado, pelo menos inicialmente, à excitação sexual intensa. A excitação sexual que é produzida pelo próprio vestuário é considerada uma forma de fetichismo e pode ocorrer com ou independente do uso de roupas do sexo oposto.
Quando seus parceiros são cooperativos ou desejam participar, homens que se travestem podem se envolver em atividade sexual com roupas parcial ou totalmente femininas. Quando seus parceiros não são colaborativos, eles podem sentir ansiedade, depressão, culpa e vergonha por causa do desejo de se travestir e pode experimentar disfunção sexual em seus relacionamentos. Em resposta a esses sentimentos, os homens muitas vezes eliminam do vestiário roupas femininas. Essa purgação pode ser seguida por ciclos adicionais de acúmulo de roupas femininas, perucas e maquiagem, com mais sentimentos de vergonha e culpa, seguidos de purgações.
Como forma de tratamento, os grupos sociais e de suporte para homens que se travestem são geralmente úteis, mas não há nenhum fármaco eficaz. A psicoterapia, quando indicada, visa a auto-aceitação e a modulação dos comportamentos de risco.
Então vemos com bastante clareza que há um definição médica por trás dessa condição, que não possui nenhum “tratamento” indicado, mas que, quando reprimida pode gerar sentir ansiedade, depressão, culpa e vergonha por causa do desejo de se travestir e pode experimentar disfunção sexual em seus relacionamentos.
Sissy é a sua … Avó!
Depois de tudo, pensando que estamos falando de um homem de meia-idade, que tem no seu subconsciente o seu desejo mais profundo de agradar maternalmente ao outro, seja até mesmo fazendo uma boa faxina, seja cozinhando seus pratos favoritos para te agradar, vemos que a Sissy é muito próxima, hoje, da figura da avó tradicional, que seriam as mulheres “clássicas” como retratadas nos filmes da década de 1950.
E isso provavelmente se relaciona ao modelo mental de idealização do feminino que a Sissy desenvolveu, visto que, ao não ter vivido uma adolescência feminina real, não pode confrontar o ideal feminino materno com a construção da personalidade real molhada por experiências e vivências cotidianas, para chegar a uma resolução adulta, como ocorre no desenvolvimento da personalidade feminina das mulheres em geral.
Nestes tempos de isolamento social, quando tivemos todos que nos virar e cuidar das tarefas da casa, limpar, lavar, passar, cozinhar, pode ser que tenhamos aprendido a dar valor a cada uma dessas tarefas, e até a sentir o desejo de ter alguém que pudesse cuidar delas por nós, como uma Sissy!
Se simplesmente dando escape a suas angústias ou se vivendo fantasias, não sabemos, mas as verdadeiras Sissies são criaturas meigas e que não querem mais do que agradar, como a sua avó!
Referências:
Tudo sobre os mecanismos de defesa
Os malefícios do Crossdressing
Visão geral dos transtornos parafílicos
Você sabe o que é a Transexualidade
As vias da transexualidade sob a luz da psicanálise
Crossdressing Masculino: Uma Visão Psicanalítica da Sexualidade
Sobre a Autora
Ana Lúcia Rejszkjard
Crossdresser e Sissy, 54 anos, praticante de BDSM há algumas décadas, ex-colunista em alguns jornais, ex-professora universitária, fechando um círculo de autodescoberta e autoconhecimento.
SISSY – SUBMISSÃO, SERVIDÃO, E… SUBVERSÃO!
Uma resposta
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