Estamos em 2021 e, a menos que alguém esteja acordando de um profundo coma, todos nós sabemos como foram os últimos 15 meses.
Então, antes de qualquer outra coisa, eu peço a todos um segundo de silêncio por todas as pessoas que não estão mais entre nós, próximas ou distantes, queridas ou nem tanto, mas cujas vidas foram abreviadas por esse terrível vírus.
Por estar aqui escrevendo ainda sou uma sobrevivente, mas nem isso é tão certo nos tempos que vivemos.
Sei que geralmente escrevo sobre temas de gênero, feminização, e sobre o servir em termos mais gerais, então vou propor uma conversa sobre como estamos sobrevivendo e servindo agora que não há mais práticas, festas ou clubes, nestes tempos sombrios em que toda hora a realidade nos faz chorar ou pensar sobre o porquê disso tudo.
Bom, sabemos que a maioria de nós é SSC, São, Seguro e Consensual, então, por mais que tenhamos dentro nós o desejo de estar com quem queremos servir (ou que desejemos que aquele alguém especial nos esteja servindo), cabe a pergunta se isso seria algo “São” neste momento.
Não estou dizendo que estejamos doentes, mas será que os deslocamentos, os contatos com outras pessoas, no trabalho, no transporte, não podem fazer com que acabemos por contaminar justamente alguém a quem queremos tanto que não podemos viver sem?
Falo de experiência, de 15 meses sem fazer nada, senão interações virtuais por WhatsApp e conversas esporádicas, mas sem o físico, sem o contato, sem estar.
Sei que muitos vivem essa mesma realidade, e que muitas vezes nos faltam as forças para resistir a não estar, a dizer que melhor é não forçar a barra, melhor esperar.
Aqui temos um paradoxo cruel, mas verdadeiro, e que deve ser quase que um mantra por ainda um bom tempo: meu servir se faz melhor ao não existir.
Sim, servir em tempos tão difíceis como os que estamos vivendo é consciente e firmemente não expor os outros a riscos, é zelar de forma tão firme e dedicada que sabemos que devemos deixar para lá os desejos e os instintos e ficarmos quase em hibernação, à espera de tempos melhores.
Se é fácil? Claro que não!
Se há prazer? Nem pensar!
Mas como seria o peso de saber que não consegui me controlar e isso causou o mal, ou, Deus nos livre, o ainda pior?
Vi muita gente que apareceu no meio este ano, talvez como forma de matar o tempo, talvez não, e vejo que querem viver já e agora suas mais loucas aventuras, que estão prontas para viver como se não houvesse amanhã.
Bom, isso é o que acabará acontecendo se insistirem, não haverá amanhã, nem depois, nem nada.
Ainda é um momento de cautela, e servir é também saber não ser um peso, não ser um fardo, não estar, então, esse é o meu conselho neste dia.
E, um ano inteiro interagindo com o mundo virtual, vi várias vezes os mesmos equívocos serem repetidos, os mesmos preconceitos serem manifestados, as mesmas falsas verdades serem afirmadas, por gente que não quer aprender, quer apenas seguir repetindo suas “verdades”, independente do que realidade mostre ou seja.
Paciência. A gente não consegue mudar quem não quer ser mudado, e nós também cansamos de repetir as mesmas explicações para quem não quer entender.
Essas pessoas entram em grupos de estudo, mas estudar que é bom passa longe de seus interesses… triste, porém verdade!
Se você não sabe, estude de verdade, busque informações confiáveis, desfaça preconceitos, não se deixe levar por erros do passado. A vida pede que cresçamos, e é bom crescer.
Sei que o tom está meio sóbrio demais, e como ninguém é tão perfeita…
Então, se você está sozinho em sua casa há tanto tempo e não sabe mais o que é sair na rua, o que está te impedindo de dar os primeiros passos em sua busca por uma forma mais feminina?
Todas as grandes lojas têm sites com entregas em até poucas horas dependendo da região, então nada impede que ninguém cuide de sua própria aparência e que comece a dar forma a seus sonhos.
Há diversos Apps de ginástica para modelar a barriguinha, e qualquer farmácia vende bons produtos de cuidados pessoais.
Sei que o olhar do outro é quem valida nossa experiência, mas por que não fazer o máximo enquanto esperamos?
Fiquem todos seguros e que logo a vida volte a ser vivida!
Sobre a Autora
Ana Lúcia Rejszkjard
Crossdresser e Sissy, 54 anos, praticante de BDSM há algumas décadas, ex-colunista em alguns jornais, ex-professora universitária, fechando um círculo de autodescoberta e autoconhecimento.