Estamos vivendo tempos difíceis em diferentes frentes e, infelizmente (ou felizmente) alguns assuntos se tornam urgentes. Esse é um deles! E, se você, assim como eu, pensa que o BDSM deve ser pensado como uma subcultura inserida numa cultura maior, e que, se conseguirmos melhorar aspectos da sociedade fora, teremos consequências positivas aqui dentro, então esse assunto é também para você.
Um assunto que pouquíssimo se fala, por que, pouquíssimo se entende mas, espero que, vocês leiam e que cada um de vocês meus danadinhos, também entenda, que o todo, só muda, se a gente mudar o indivíduo.
Portanto, peguem seus cafés, se acomodem e aproveitem a leitura e, se puderem, divulguem, compartilhem, façam essa mensagem ser ouvida! Porque ela é necessária! E o momento é esse!
A masculinidade tóxica é o comportamento de reforço de um discurso (patriarcal sim), que imputa ao ser masculino comportamentos que o tornaria automaticamente superior ao feminino.
A masculinidade tóxica vem carregada de estereotipagens ao sexo masculino. Estereótipos esses que, colocam nos ombros masculinos, um peso que não deve ser colocado.
A masculinidade tóxica é cheia de “verdades” que são amplamente direcionadas aos homens, como por exemplo: homem jamais demonstra tristeza, cabe ao homem nunca “negar fogo”, homem tem que ser agressivo e competitivo, homem não pode ser compassivo nem empático, homem deve ser o provedor e ser sempre autossuficiente, ao homem não são permitidas as lágrimas, e, todo aquele discurso que já conhecemos.
As pessoas que me conhecem de outras leituras, sabem que eu tranquilamente afirmo que, as mães, infelizmente, muitas vezes, reafirmam discursos machistas, simplesmente porque elas viveram em outro tempo, outras normatividades e condições e, estendendo um pouco esse conceito de masculinidade tóxica, eu posso dizer que, determinadas relações parentais podem sim, ser tóxicas e nocivas aos filhos homens. Querem um exemplo? Pais que dizem que, “os meninos que apanharem na escola, apanharão em casa”. Esse tipo de discurso acaba criando verdadeiras personalidades masculinas disformes.
Dentro do meu entendimento, o homem é tão vítima da masculinidade tóxica quanto a mulher é do machismo (e por isso todos precisam do feminismo!)
Dentro de um contexto BDSM, não podemos fechar os olhos, e dizer que não somos um meio preconceituoso, que não somos um meio machista, por mais bizarro que isso possa parecer, sim somos, ainda somos! E nesse contexto, percebo muitas vezes os homens sofrerem com a masculinidade tóxica dos dois lados do chicote.
Primeiro, o homem como Top: o estereótipo que se criou do Top, principalmente o Top homem. E em um segundo momento: o estereótipo do bottom, e ainda mais quando ele é homem.
Quando se entende a posição de Top como a posição de um semi deus, se joga em seus ombros, responsabilidades e fardos, muito maiores do que a posição em si já impõem.
Quem me conhece sabe também que eu sou bastante partidária da “humanização” do Top, ou seja, entender o Top como apenas um ser humano. Que sente, que tem dores, dissabores, momentos de dúvidas e todos os outros sentimentos que qualquer ser humano tem.
Eu vejo muito bottoms projetando em seus Tops, ou possíveis Tops, “a tábua de salvação” de suas vidas e elas, por incrível que pareça, mesmo sem perceber acabam por transferir a eles exatamente essa mesma “macheza tóxica” que é encruada na nossa sociedade.
Sem perceber, isso é reafirmar masculinidade tóxica!
Eu ouso dizer que, a posição de Top, independente de masculino, feminino, gay, trans, bi, pan, recebe muito desse peso, como se ao Top, não coubesse a humanidade.
No outro extremo, temos os bottoms masculinos! Danadinhos, como é difícil encontrar um rapaz, gay ou não, que se assuma bottom absolutamente sem nenhum tipo de reservas! Poucas pessoas conseguem entender a força da posição de bottom, logo, essa falta de entendimento associada ao reforço do comportamento social errado, automaticamente faz com que existe, para esse menino, tantos questionamentos que, eventualmente ele chega a pensar na sua submissão como um “erro”. A masculinidade tóxica não permite ao homem ter prazer sem se culpar ou sem ser questionado por isso, a não ser que ele esteja na posição mandatária, obviamente.
Como acabar com a masculinidade tóxica do meio? Da mesma forma que acabaríamos com a masculinidade tóxica no mundo: dando ao homem a liberdade de expressar seus sentimentos, suas fraquezas e incertezas sem julgamentos uma vez que, não é porque se nasceu homem que se nasceu imune às mazelas da existência.
Eu, Sra Storm, acredito que, fora as pessoas que são marginais por que são marginais mesmo, aqueles por natureza, todos, somos o resultado das sociedades que vivemos, quanto mais permissiva, moderna, avançada e acolhedora a sociedade, mais “bem resolvidos” nós somos.
Um ser humano não nasce homofóbico, racista, machista, sexista, misógino etc. Ele é moldado dessa forma, decorrente da sociedade que ele vive. E aqui, eu vou desde o conceito micro da sociedade, que é a família, até o conceito macro que é o Estado em si.
Entendam aqui, que não pretendo afrouxar a posição de Top, continuo achando que o Top precisa, por ser Top, ter uma visão muito mais ampla do espectro humano sim, não mudo o fato de achar que Top tem toda a responsabilidade da relação, mas nunca o coloco na posição de semi Deus.
Uma coisa é “hombridade”, outra coisa é a condição irreal de endeusamento. (e meu conceito de hombridade é totalmente desvinculado do gênero e sim vinculado à espécie humana).
Da mesma forma que sou grande partidária de pararmos com essa ideia errada de subserviência de bottom! Bottoms precisam ser submissos para darem vazão ao atendimento de seus prazeres, mas nunca subservientes a ponto de aceitarem e tomarem pra si esse papel inferior que a toxicidade traz consigo.
Nos pensemos como seres humanos, e como nós podemos, a partir da gente, mudar o cenário que já sabemos, não vem dando certo! E que possamos todos viver nossas dissidências erótico sexuais com aceitação e realizações!
Bom, por hoje é isso!
Até sexta danadinhos!
Sra Storm
Sra Storm
TEXTO CEDIDO PELA SRA STORM DA SUA PÁGINA DO INTAGRAM @darkroomcla COM CONTEÚDO INSTRUTIVO DA SUBCULTURA KINK E BDSM
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!