Não seja o homem que a sociedade machista quer!

Todo homem desde o nascimento vem ao mundo com algumas necessidades que não são dele, mas impostas por uma sociedade machista pautada nas idéias do patriarcado: ser forte, durão, intimidador, poderoso, rústico, sexual, se opor a tudo que é feminino…! E assim, o “macho” passa a vida tentando provar em vão sua virilidade que não deve ser posta em cheque. Longe de vitimização ou comparação com a dor das mulheres, mas o resultado são homens com emocional restrito, sufocados, que acabam por adoecer, se autodestruir, morrer.

A vida real traz inúmeros elementos de masculinidade tóxica fortes desde a infância, potencializando-se na adolescência e se fixando pelo resto da vida. Pais e governos perpetuam idéias como a de que meninas usam rosa, meninos azul; mídia e cultura ditam constantemente os brinquedos e brincadeiras adequados para as crianças (meninas brincam de casinha, meninos de futebol) e isso reverbera por várias outras condições como uma das mais importantes na vida de uma pessoa: sua orientação sexual. Não é permitido ser gay. Ser gay é ser ligado ao feminino e a representação equivocada de feminino no imaginário social é de algo fraco, submisso, inferior, dependente.

Essa masculinidade baseada no medo, que busca se provar “macho” a todo momento – estimulando violência, bloqueio emocional, homofobia e obsessão com dinheiro, sexo e poder – é tóxica. Podemos escolher quem queremos ser sem que isso coloque em risco o quão homem nós somos. Há de chegar o dia em que o menino vai poder ter livre-arbítrio para escolher se brinca com a boneca barbie ou com o Ken sem maiores problemas.

Na vida real, homens e mulheres tem as mesmas necessidades psicológicas – amar e ser amado, expressar emoções, ser ativo ou passivo -, mas o ideal do homem impede-lhe a satisfação dessas necessidades, abrindo espaço para a violência masculina no dia a dia.

Para ser considerado masculino, desde a infância o menino deve rejeitar e se opor a tudo que é feminino, a iniciar reprimindo o forte vínculo com a mãe e o prazer da passividade. Essa ruptura precoce na tentativa de se adequar ao modelo imposto é frustrante para a maioria dos homens. Perseguir o ideal masculino gera conflitos e tensões, tornando imprescindível usar uma máscara, de onipotência e independência absoluta.

Pela atividade sexual que desempenha, o homem toma consciência de sua identidade e virilidade. É considerado homem quando seu pênis fica ereto e come uma mulher. E isso deve acontecer o mais cedo possível. De maneira explícita ou não, é pressionado pelo próprio pai ou pelos amigos. Para a menina é mais simples porque a menstruação, que surge no início da adolescência, não deixa dúvidas de que pode ter filhos, fundamentando naturalmente sua identidade feminina.

Na vida adulta, os homens escondem a necessidade que têm das mulheres mostrando-se autossuficientes e desprezando-as. Convencem-se de que elas é que precisam deles, da sua proteção. Negando suas próprias necessidades de dependência, sentem-se mais fortes e poderosos.

O homem masculino e o homem dependente não são autônomos. Autonomia implica não se submeter às exigências sociais, de modo a rejeitar características da própria personalidade consideradas femininas pela nossa cultura. O homem pode ser forte, decidido e corajoso, mas também frágil, indeciso e, muitas vezes, sentir medo, dependendo do momento e das circunstâncias. Pode falar dos seus sentimentos, ficar triste e chorar. O homem autônomo só começa a ter possibilidade de surgir nesse momento, em que o patriarcado decai.
O machismo parece forte, mas ele está se quebrando cada vez mais.

AUTOR

RIGLE GUIMARÃES

Psicólogo e Terapeuta Sexual com foco no público LGBT+ e abordagem de comportamentos sexuais variados.

Instagram: @psicorigle com conteúdo voltados a questões que vão da saúde mental à sexualidade.

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Uma resposta

  1. Seria muito bom que cada um pudesse demonstrar sua verdadeira natureza sem ter que se encaixar em padrões pré construídos pela sociedade. Não estamos nem perto disso, mas percebo que as gerações mais novas são mais flexíveis. Infelizmente não chegaremos a viver esta realidade, acredito que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas gosto de pensar que a humanidade chegará lá.

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