Autor do Post: submisso 346
O Couro, esse material tão encantador quanto sofisticado, usado para diversas aplicações, desde vestuário e assessórios até a industria automobilística e de mobiliário, movimenta em média 1 bilhão e 800 milhões de dólares todos os meses só no Brasil de acordo com o CICB (Centro de Industria de Curtume do Brasil). O Brasil, grande produtor de carne bovina é por consequência um grande produtor e exportador do couro de gado vacum. São 15 milhões de metros quadrados de couro produzido todos os meses por aqui.
Mas já se perguntou ou teve curiosidade de pesquisar sobre como a pele de algum animal que foi abatido essencialmente devido ao valor da sua proteína que usamos como alimento, se transforma no couro, esse material que amamos?
Algumas etapas de transformação química são necessárias num processo chamado de curtimento. O curtimento torna uma matéria orgânica e perecível (a pele do animal) num material nobre e estável, através de diversos processos físico-químicos.
Esse processo embora tenha sofrido importantes alterações ao longo dos anos, é muito antigo. Há evidencias que o couro já era utilizado no Egito antigo, 3 mil anos a.C. O processamento da pele de qualquer animal até chegarmos ao couro tem duas grandes etapas, a fase molhada e a fase seca.
Na fase molhada a pele passa pela Ribeira, onde enzimas limpam todos os materiais orgânicos indesejáveis, como resíduos de sangue por exemplo, e onde os pelos serão dissolvidos através do uso de sulfitos. Depois disso o couro é curtido, geralmente com uso de cromo, que transforma a pele em um material já não mais perecível, que pode ser estocado. Nessa fase a pele do animal ganha uma coloração azulada devido ao cromo, e por isso é chamada de wetBlue. O Brasil, infelizmente, ainda exporta grande parte do couro que produz, na forma de wetblue, quando o material ainda não atingiu seu potencial de valor como produto comercial.
As fases subsequentes são as mais sofisticadas do processo. Ainda na fase úmida o couro será rebaixado (terá sua espessura diminuída por lixamento) e passará pelo recurtimento, onde serão definidas características como toque e maciez. A próxima etapa é o tingimento, onde a pele recebe as tão comuns colorações preta e marrom, mas nessa etapa é possível conferir ao couro praticamente qualquer cor. Finalmente o couro passa pelo engraxe, etapa onde as gorduras naturais são substituídas por graxas sintéticas que farão o couro macio e flexível. O engraxe encerra a fase úmida do processo.
As próximas etapas são secas, ou seja, o couro já não sofre mais banhos de imersão, e sim processos físicos e mecânicos. Ele é estirado para ganhar elasticidade, e ganha acabamentos, como vernizes para conferir brilho e resistência a abrasão, ou stuccos, para conferir preenchimento e efeitos dos mais diversos.
Após um longo processo agora o couro já é um material pronto para ganhar forma na mão de designers e estilistas. A industria do couro é essencialmente feminina. De cada 10 pares de sapatos vendidos no mundo, 8 são femininos. As mulheres são as maiores consumidoras de couro em forma de calçados, bolsas e acessórios.
Materiais sintéticos tem cada vez mais imitado o couro com impressionante similaridade, mas a verdade é que nada pode substituir a qualidade e beleza de uma linda pele natural. Uma das maiores belezas do couro é que sendo um material natural, como a madeira, ele não é padronizado. Cada peça de couro traz as irregularidades do animal que a possui um dia. Feridas, cicatrizes, deixam suas marcas no couro e fazem desse produto um material único. Não há como obter duas peças exatamente idênticas. Cada peça é única. Cheiro, cores, maciez e toque são características únicas do couro que nenhum material sintético jamais poderá copiar.
Não é de admirar que um material de origem tão nobre e que sofra um processo tão complexo de fabricação estimule o desejo e a fantasia de tantas pessoas.
