COM A PALAVRA – NEFERTITI ISHTAR

Apresento-lhe uma das Mulheres que faz parte do time de homenageadas deste ano do Dia da Mulher 2021.

E com a palavra, NEFERTITE ISHTAR

Quem é você mulher? Defina-se!
Um ser consciente de sua luz e sombra e que procura o equilíbrio desses opostos em seu dia a dia.
Posso dizer que sou uma pessoa feliz que já alcançou a maioria de seus objetivos de vida, mas também consciente que muitos objetivos importantes ainda estão a frente, isso faz com que eu me renove e fortaleça a cada etapa, com as vitórias, derrotas e aprendizados de cada batalha.
Tenho muitas faces e ao mesmo tempo sou uma só, isso me proporciona o privilégio de vivenciar diferentes contextos e fazer a ponte entre eles, unindo assim o aprendizado em diferentes áreas para crescer como um todo.
Sou mãe de gente, mãe de pet, esposa, artesã, costureira, bruxa, dona de casa e também Dominatrix e ser Dominatrix é uma de minhas faces como qualquer outra.
Costumo dizer que sou tanto Dominatrix no jantar de família quanto dona de casa no X.
Como me defino? Pergunta muito difícil porque sou um ser em constante mutação, mas posso dizer qual a definição de minha Jornada:
Fazer meu melhor na busca eterna da plenitude em todas as minhas faces.

Você acredita que as mulheres se dão bem com seus fetiches? E você? Se dá bem com os seus?

Infelizmente a grande maioria das mulheres, seja por programação social ou por repressão pessoal não vivenciam seus fetiches.

Mesmo com os avanços da tecnologia e informação muitas mulheres ainda são presas ao conceito infundido pela sociedade que devem se comportar de acordo com uma série de regras, em sua maioria impostas por homens, que reprimem sua sexualidade desde criança, na verdade, mesmo antes de nascer.

As mulheres que estão conseguindo sair desta teia formada faz séculos, conseguem perceber que são muito mais fortes e completas quando se sentem realizadas sexualmente e ser realizada sexualmente implica numa jornada de autoconhecimento através de seus fetiches. Essa jornada não é fácil, mas pode ser extremamente prazerosa, mesmo com suas intempéries.

Quanto a mim, sem dúvidas me dou bem com todos os meus fetiches e os realizo com a máxima constância possível!

Muitos anos atrás decidi viver o estilo de vida BDSM, percebi que isso me completava e me possibilitava ser eu mesma em meu mais profundo âmago.

Já tive muitos servos e servas, no momento possuo 3 servxs e uma pet que serve a família (meu filho também e Dominador) e também gosto muito de sessões avulsas, o que me proporciona uma gama de oportunidades de realizar os mais diversos fetiches.

Qual seu maior fetiche ou desejo?

Não tenho um fetiche especifico, a cada momento posso estar com vontade de uma coisa diferente, com uma pessoa diferente. não é pratica X ou Y que me fascina, apesar de ter algumas preferidas, é o contexto.

Posso me sentir plenamente realizada com uma massagem nos pés ou batendo em alguém até sangrar, não é a um fetiche ou pratica específica que me dá prazer e sim a entrega do sub, o enredo de toda a cena.

Gosto de muitas práticas, tenho muitos fetiches e a delícia do BDSM e que sempre descubro outras práticas, outros fetiches.

Até onde você iria para viver de forma saudável a sua liberdade de expressão sexual?

Não vou dizer até onde iria, porque não sei, mas posso dizer até onde já fui.

Desde que me lembro, sempre tive a mente muito aberta em relação a sexualidade.

Minha primeira repressão sexual relevante foi quando meu pai me expulsou de casa por ter visto uma foto minha beijando uma menina (hoje em dia ele não só sabe que sou Dominatrix, como falamos desse assunto com naturalidade) e ai entendi que minhas escolhas, inclusive sexuais poderiam influenciar minha vida de uma forma drástica.

E consciente disso comecei a traçar meu caminho levando em consideração que minha sexualidade e a liberdade de exerce la era algo fundamental em minha vida, isso mesmo antes de conhecer o BDSM.

Quando conheci, entendi que seria parte vital em minha existência e lutei e ainda luto para que seja uma parte harmônica.

Para viver o BDSM com a profundidade que eu desejava, larguei emprego estável pra virar Dominatrix, mudei totalmente minha postura, trabalhei minha família por anos para, mesmo que não entendessem, respeitassem minhas escolhas, criei meus filhos conscientes de quem sou, explicando em cada idade, com linguagem própria a cada fase e contexto para que crescessem libertos de preconceitos.

Direcionei toda minha vida para poder hoje colher os frutos das sementes que plantei arduamente e posso dizer, sem sombra de dúvidas, que valeu e vale a pena.

Cada esforço, cada lágrima, cada decepção me fizeram e fazem dar mais valor à liberdade e autoconhecimento que viver minha sexualidade, como desejo, pode trazer

Exercer plenamente minha liberdade de expressão sexual me traz saúde mental e faz minha vida como um todo mais saudável.

Simone de Beauvoir disse que não se nasce mulher, mas sim que a pessoa se torna mulher. O que isso fala sobre você?

Ser uma mulher, no contexto visceral é uma de minhas grandes buscas.

Compreender a grandiosidade feminina é um aprendizado de vida, a cada experiência própria ou compartilhada, a mulher toma maior consciência de sua magnitude e simplicidade, de seu Poder e sua fragilidade, de sua luz e sua sombra, de sua loucura e sanidade.

Compreender o Poder de gestação de uma mulher (e não me refiro a apenas gerar outros seres humanos) é compreender uma das grandes maravilhas do mundo, é entender o quanto o Universo e perfeito em suas criações.

Mas ser uma mulher consciente não é uma dádiva de nascimento, você precisa passar por muitas muitas vivências e aprendizados pra ser consciente de si mesma e consequentemente, do feminino de outras mulheres (e da face feminina dos homens) e esta também é uma trajetória sem fim, porque uma mulher consciente de si mesma sabe que seu aprendizado nunca termina.

Brené Brown disse que “é preciso coragem para ser imperfeita. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.”
Como foi para você essa jornada de descoberta?

Não foi, ainda é a cada dia.

Essa é mais uma jornada que nunca cessa.

Abraçar nossas fraquezas é ter coragem de olhar pra elas todos dias e mesmo que nem sempre consiga sorrir, as reconhecer e acolher como parte de si.

Aceitar suas imperfeições é não só um exercício diário de amor próprio, como também um desafio em equilibrar las com suas qualidades.

Se desprender da imagem do que devia ser não e algo fácil, antes de começar a pensar nisso é preciso identificar se a imagem é a que você acha que deveria ter ou se é a imagem que terceiros tem de você que está tentando suprir.

Identificado isso, você precisa solidificar sua própria imagem consigo mesmo, e isso por si só já é uma tarefa difícil porque por mais que você tenha sua essência solidificada, suas experiências de vida te tornam uma nova pessoa a cada novo dia.

A soma dessas experiências e que vão te guiar a ser quem realmente deseja ser.

Descobrir quem deseja ser e um exercício constante de auto avaliação.

Rever suas escolhas, reafirmar ou não convicções, se abrir a novas formas de ver as mesmas coisas são itens essências para que possa avaliar não só a pessoa que deseja ser, mas também os meios para conseguir.

PARA AS BDSMer,,, continua…

1) o que é ser mulher BDSMer pra você?

E ser uma mulher que deu permissão a sí mesma para viver seus fetiches como parte integrante de sua vida e que através disso tem a possibilidade de ter experiências que a maior parte das mulheres desconhecem.

Não importa se esta mulher e dominante, submissa ou ambos, só o fato dela ter se desprendido da programação social opressora, que tolhe o direito de exercer sua sexualidade como quiser já é um motivo de muitos aplausos.

Para ser uma mulher BDSMer é preciso ja ter passado por muitas descobertas e reprogramações.

Ser uma mulher que tem fetiche, a grande maioria é, mesmo que não assuma, porém ser uma mulher BDSMer é ir além disso, é abraçar e alimentar sua sexualidade da mesma forma que alimenta outros setores importantes de sua vida.

É ter consciência que vivenciar seu estilo de Vida pode ser motivo de julgamento para muitos e ainda assim seguir adiante convicta de suas escolhas.

2) você acha que a mulher tem um _papel social_ a cumprir dentro do BDSM?

Claro!

Mas isso não se restringe apenas ao BDSM.

E acredito que para desempenhar um papel social efetivo dentro do âmbito do BDSM é preciso que essa pessoa faça isso também nos outros setores de sua vida, não adianta levantar a bandeira do feminismo no virtual e em casa aceitar as ordens patriarcais ditadas por marido, pais, filhos etc.  Não adianta levantar a bandeira da liberação sexual se não tem coragem nem de se tocar, não adianta se dizer uma mulher BDSMer e abrir mão de seus fetiches para agradar a outros.

E necessário viver o que se prega, caso contrário não terá forças, sobriedade e sabedoria para de fato fazer a diferença seja em que meio for.

3) você acredita que exista desigualdade de gênero no BDSM?

Sim, menos pronunciada do que no meio baunilha, mas ainda assim e necessário mais tempo e esclarecimento para que isso não exista.

4) você acha que existe sororidade no BDSM?

Sim, ainda existe, porem de uma forma diferente de quando conheci o BDSM e em diferentes graus de proximidade e intensidade.

Antes a comunidade BDSM era menor, as reuniões eram presencias, olho no olho, coração batendo junto, a grande maioria das praticantes se conheciam ou conheciam alguém que conhecia alguém…

Claro que essa não é a realidade atual, com o advento da internet as fronteiras foram expandidas, muito mais pessoas buscam o BDSM e grande maioria não se conhece, além do virtual, isso dificulta bastante a manutenção da empatia num nível de vermos de fato sororidade além do virtual.

Vejo muitas disputas de ego, manifestadas através de buscas incessantes de mais likes.

Novas praticantes se digladiando por pseudo money slaves, tendo o dinheiro como único objetivo de sua Dominação.

Por outro lado, ainda existe uma rede de mulheres que se apoiam, que vão à procura de outras seja presencial ou virtualmente procurando referencias de parceiros, aprendizados de práticas e liturgia, porém, isso ocorre em poucos núcleos, geralmente de mulheres que se conhecem pessoalmente ou que tem amigas em comum.

5) você acredita que existam _mulheres Red Flags_?

E claro!

Honra, caráter, lealdade, verdade e consciência não são predicados de um gênero especifico, assim como a falta deles também não.

Muitos acham que só homens podem ser perigosos, ledo engano, existem mulheres muito mais ardilosas que a maioria dos homens.

E outra coisa e achar que só TOP oferece perigo, muitos submissos podem ser extremamente mais danosos do que um TOP com todo seu “poder”.

Ser Red Flag não é questão de gênero, é questão de essência.

6) você consome conteúdo fetichista *criado e divulgado* por mulheres?

Sim, mas não especificamente porque são mulheres e sim pelo valor do que criam.

Não faço distinção entre gênero quando consumo conteúdo fetichista, apenas faço distinção de qualidade

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