COM A PALAVRA – BELARINA

Apresento-lhe uma das Mulheres que faz parte do time de homenageadas deste ano do Dia da Mulher 2021.

E com a palavra, BELARINA

Quem é você mulher? Defina-se!

Minha trajetória enquanto mulher foi marcada pelos mais variados tipos de adversidades e eu as enfrentei uma a uma sem me arrepender das decisões que precisei tomar, pois cada obstáculo que a vida me impôs me ajudou a construir a mulher que me tornei.
Sou feminista, antifascista, comunista, fetichista e muitos outros “istas”. Rs Mas também sou dedicada a tudo que me proponho, leal às minhas amizades e aos meus amores, profissional competente e eterna amante do estudo, dessas que acredita que é através do conhecimento que se muda o mundo e a realidade das pessoas em busca de uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
Tenho um lado tímida, mas ando descobrindo uma confiança dentro de mim que vem me permitindo trabalhar esse ladinho mais quieto.
Mas não se engane com meu jeitinho doce e delicado e muito menos com meu 1,52m, porque quando eu preciso lutar pelo que acredito, eu ganho mais um metro de altura! Rsrs
Sou dessas que sofre de excesso de empatia e tenho um prazer imenso em poder ajudar as pessoas. Sou uma sonhadora nata e desejo que a minha passagem por essa vida possa fazer diferença no mundo, mas se eu não chegar tão longe, já fico muito grata de poder fazer a diferença no dia de algumas pessoas.

Você acredita que as mulheres se dão bem com seus fetiches? E você? Se dá bem com os seus?

Viver uma sexualidade considerada desviante, fazendo parte de uma comunidade marginalizada, por si só já é um desafio, mas para as mulheres ainda adiciona-se o fato de estarmos inseridas em uma sociedade patriarcal e cristã, onde o papel do sexo na vida da mulher está ligado à reprodução. Então, quando a mulher vai buscar o sexo com a finalidade de satisfazer sua libido, exteriorizar seus fetiches e desejos, ela é censurada e taxada de depravada.
Para poder expressar meus fetiches livremente precisei iniciar uma jornada de autoconhecimento e aceitação. Hoje faço o que tenho vontade e me permito viver todos os meus desejos e fantasias sem amarras, mas nem sempre foi assim. Fui casada por muitos anos e, apesar de ter sido uma relação duradoura, eu sentia que faltava algo, mas eu não tinha consciência de que se tratava de uma sexualidade e nem sabia como expressá-la. Foi um caminho longo e árduo até que eu me permitisse libertar todos os meus desejos, mas essa jornada tem sido recompensadora.

Qual seu maior fetiche ou desejo?

Durante muitos anos eu fantasiei com a submissão. Estar totalmente entregue a um ser superior e ser subjugada por ele, intercalando momentos de dor e prazer sempre foi uma fantasia que rondou o meu imaginário.
Porém, a falta de conhecimento de que isso era uma expressão da minha sexualidade fez com que eu retardasse essa vivência.
Hoje, conhecendo melhor os desejos do meu corpo e da minha mente sou capaz de vivenciar esses fetiches de forma prazerosa e sem culpa.

Até onde você iria para viver de forma saudável a sua liberdade de expressão sexual?

A minha sexualidade hoje tem um lugar de muita importância na minha vida e para ter o direito de continuar me expressando, eu lanço mão de muita militância, tanto para desmistificar o BDSM para quem não conhece esse universo, quanto ajudando no empoderamento de outras mulheres para que vivam seus prazeres e sejam felizes com seus orgasmos.
O que eu não faria para viver essa sexualidade seria ir contra os ideais que acredito.

Simone de Beauvoir disse que não se nasce mulher, mas sim que a pessoa se torna mulher. O que isso fala sobre você?

Eu amo essa frase e ela diz muito sobre o processo de descoberta do meu feminino. Há um ano eu não era capaz de me permitir ser a mulher que sou hoje.
Fui educada para ser aquele estereótipo antigo de mulher “pura, recatada e do lar”. E apesar de eu sentir que alguma coisa não se encaixava, vivi essa personagem por muitos anos.
Quando, enfim, um universo novo me foi apresentado, eu vi a possibilidade de me tornar a mulher que eu sempre quis ser; não aquela mulher fruto de um constructo social patriarcal, mas uma mulher livre para expressar seus fetiches e fantasias em busca de prazer.

Brené Brown disse que “é preciso coragem para ser imperfeita. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.”
Como foi para você essa jornada de descoberta?
Acredito que somos seres em constante evolução, seres que afetam e são afetados pelas relações que desenvolvemos durante nossa vida. Então, acho que essa jornada de descoberta nunca se encerra e estamos sempre aprendendo algo novo com o outro. Procuro aceitar minhas limitações e me amar do jeitinho que eu sou. Claro que nem todo dia acordamos nos sentindo uma “puta gostosa” e a era dos filtros digitais e dos comerciais de margarina não contribuem muito. Mas é importante que consigamos distinguir entre o que é real e o que é criação de um padrão de beleza que oprime e escraviza mulheres para atender a uma demanda mercadológica. Sendo assim, nos dias em que a insegurança bate, procuro me acolher e lembrar de todas as minhas virtudes, de tudo que já conquistei e do universo de possibilidades que ainda serei capaz de abraçar.

PARA AS BDSMer,,, continua…

1) o que é ser mulher BDSMer pra você?
Ser mulher BDSMer é motivo de muito orgulho pra mim, porque além de ser um meio de expressar minha sexualidade que foi reprimida durante tanto tempo, também sinto que faço parte de um movimento de contracultura que começou com os grupos Leather e com o movimento de feministas lésbicas por liberdade sexual.
Eu sou muito grata pelas mulheres que lutaram pelos direitos que eu posso desfrutar hoje e também quero ser instrumento de mudança para que cada vez mais mulheres se sintam acolhidas, representadas e não tenham que reprimir seus fetiches.

2) você acha que a mulher tem um _papel social_ a cumprir dentro do BDSM?

Quando entramos para a comunidade BDSM não buscamos apenas um lugar para viver nossa sexualidade, mas buscamos acolhimento entre nossos pares, procuramos um local de pertencimento e ansiamos por encontrar alguém que nos diga que o que fazemos não é errado.
Para a mulher isso é duas vezes mais importante, uma vez que ela já começa a sua caminhada rumo à liberdade sexual algumas casas atrás dos homens.
Logo, a mulher que já faz parte da comunidade tem sim um importante papel no suporte daquelas que estão chegando e ainda estão se descobrindo.
O meu contato com o BDSM foi um verdadeiro divisor de águas na minha vida e eu sou profundamente apaixonada por esse movimento de contracultura que tanto tem me ensinado. Através dele eu não só vivo a minha sexualidade, como também inseri esse universo no meu curso de mestrado e espero poder contribuir com a comunidade e devolver para o mundo um pouco do que aprendo com o BDSM e com a liberdade sexual que eu conquistei.

3) você acredita que exista desigualdade de gênero no BDSM?
Muitos ainda reproduzem ideias do sistema social patriarcal dentro do BDSM e acreditam que homens são superiores às mulheres. Pior ainda, acreditam que o meio BDSM é um lugar onde é permitido exercer essa suposta superioridade.
Tenho procurado fazer a minha parte quando me deparo com algum pensamento retrógrado como esse: respiro fundo e tento abrir o diálogo pra mostrar que BDSM não é sobre isso e que nada no BDSM é imposto e sim consensual e baseado em acordos.
Então, planto minhas sementinhas e torço pra elas germinarem.

4) você acha que existe sororidade no BDSM?
Sim, acho, mas como em qualquer outro ambiente há mulheres que acolhem e apoiam outras mulheres, mas também há muita competição.
Essa competição se deve a uma história que sempre desfavorece a mulher em detrimento do homem. As estruturas hierárquicas de poder contemplam poucas mulheres e por isso elas precisam competir entre si por esses espaços. Nós mulheres não somos naturalmente competitivas, o que ocorre é que fomos educadas para enxergar as outras como rivais.
Mas eu acredito em uma mudança desse cenário e que aquelas que já conseguiram quebrar esse padrão podem ajudar outras mulheres a compreender que nossa luta é uma só.

5) você acredita que existam _mulheres Red Flags_?

Infelizmente existem e não estão restritas ao meio BDSM. Na vida baunilha também podemos encontrar mulheres que possuem comportamento abusivo.
É comum pensarmos que o abusador dentro do BDSM vai ser uma figura masculina e geralmente na posição de TOP, porque a cultura em que vivemos ainda coloca a mulher no lugar de frágil e vulnerável, no entanto, podemos observar tanto dominadoras quanto submissas tendo comportamentos red flags, pois não se trata de uma questão de gênero aqui e sim de conduta ética.

6) você consome conteúdo fetichista *criado e divulgado* por mulheres?

Sim, eu não só consumo, como também indico alguns canais produzidos por mulheres, mas não só porque são mulheres, mas porque o conteúdo que veiculam é sério e comprometido com a educação sexual, comprometido em disseminar a informação e fazer o conhecimento circular para que cada vez mais pessoas possam se compreender e serem capazes de enfrentar a sociedade preconceituosa e julgadora dos prazeres alheios da qual fazemos parte.

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