Apresento-lhe uma das Mulheres que faz parte do time de homenageadas deste ano do Dia da Mulher 2021.
E com a palavra, SRTA G.
Quem é você mulher? Defina-se!
Eu não sei dizer se isso muda a forma que eu me vejo como mulher, mas eu acho que me dá uma lente diferente. A gente passa a vida lutando por igualdade e aceitação, mulher passa a vida sabendo que se não se esforçar o dobro não vai conquistar nem metade, isso as vezes faz a gente focar muito no objetivo e esquecer de olhar em volta quando estamos andando. Eu gosto de olhar em volta.
Você acredita que as mulheres se dão bem com seus fetiches? E você? Se dá bem com os seus?
Eu acredito que nós estamos aprendendo a lidar. Acho difícil generalizar porque temos recortes sociais muito díspares, especialmente no Brasil. Meu ponto de vista é de uma mulher madura, urbana, habitante de uma grande metrópole e que teve uma educação aberta e esclarecida, tenho plena consciência que sou minoria. Hoje eu vivo bem com meus fetiches, mas mesmo no meu lugar de privilégio eu tive um processo até chegar aqui.
Eu penso que, mesmo que estejamos evoluindo nesse sentido, ainda tem muito mais gente sofrendo e se debatendo do que se aceitando. Acho que cabe a quem já chegou na calmaria oferecer acolhimento a quem ainda vive a tormenta. É um trabalho de formiguinha, mas a gente chega lá.
Qual seu maior fetiche ou desejo?
Eu sou masoquista, isso é o que mais me define como fetichista e BDSMer. Todo o resto circula ao redor. Embora eu não seja uma pessoa super ligada aos role plays, eu gosto muito das coisas que tem contexto e que trazem uma carga emocional, como o cinto ou palmatórias.
Até onde você iria para viver de forma saudável a sua liberdade de expressão sexual?
Até onde eu conseguir manter a estabilidade na minha vida e na vida das pessoas que eu me importo.
A bem da verdade eu acredito que já cheguei onde eu queria. Eu ainda desejo evoluir no leque de praticas e na intensidade de algumas coisas, mas hoje eu vivo meus fetiches e minha liberdade num formato que me veste bem. Eu escrevo o que eu gosto, interajo com pessoas que me acrescentam e consigo gerenciar a contento as questões da vida baunilha. As pessoas próximas que são importantes pra mim, sabem do meu lado fetichista e não me julgam. Isso já é um excelente patamar para estar.
Simone de Beauvoir disse que não se nasce mulher, mas sim que a pessoa se torna mulher. O que isso fala sobre você?
Eu penso que esse processo de “se tornar mulher” é mais uma tomada de consciência. Ser mulher não é algo matemático, existe uma necessidade de se posicionar perante o mundo. Nossas escolhas, mesmo as mais simples, tem peso de statement. Não fazer militância também é um ato militante, independente da posição que a mulher assume. Não existe ser mulher e ser indiferente aos contextos que impactam a nossa vida.
Brené Brown disse que “é preciso coragem para ser imperfeita. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.”
Como foi para você essa jornada de descoberta?
Existe um conceito na arte oriental que é o de abraçar o erro e transformá-lo em parte da obra, sem tentar esconder a existência dele. Um traço errado ou uma forma imprevista passam a ser o que vai tornar aquela obra única.
Eu vejo as imperfeições como a beleza da vida, a perfeição é chata. É no imprevisto que o caminho se enriquece, é a fraqueza ou a imperfeição de alguém que a torna única. Isso não me exime de buscar evoluir e me aprimorar, mas eu me engrandeço muito com o processo de usar minhas fraquezas a meu favor.
–PARA AS BDSMer,,, continua…
1) o que é ser mulher BDSMer pra você?
É uma construção diária. É me questionar e me redirecionar sempre que necessário. É viver tendo a consciência de que ser quem eu sou tem um peso, especialmente sendo bottom E feminista. A sociedade nos cobra uma porção de coisas o tempo todo, ser capaz de me entender e me aceitar dentro do BDSM é um ato de resistência.
2) você acha que a mulher tem um _papel social_ a cumprir dentro do BDSM?
Eu acho que todo mundo tem um papel social na vida, independente de ser homem ou mulher. Viver é um ato coletivo, o BDSM como um recorte da sociedade não pode ser diferente.
3) você acredita que exista desigualdade de gênero no BDSM?
Como eu enxergo o BDSM como um recorte do que somos como sociedade, não tem como acreditar que os pontos negativos da sociedade como um todo não serão replicados por aqui. Por mais que a gente busque ser libertário, não existe portal mágico. Quem vem pro lado de cá traz junto todo o seu catálogo de repertórios. A desigualdade aqui dentro é a mesma que existe lá fora.
4) você acha que existe sororidade no BDSM?
Sim e não. No BDSM ou fora dele, vivemos um momento bastante polarizado enquanto sociedade. A sororidade abraça quem está na mesma turma, existe algum apoio em caso de abuso ou situações que exponham meninas a julgamentos e ofensas, mas a competitividade feminina também é um fato bem marcante por aqui, especialmente entre as bottoms. Basta uma aproximação com um Top com posse pra sororidade ir comprar cigarro e não voltar mais.
5) você acredita que existam _mulheres Red Flags_?
Claro! Assim como também existe bottom red flag, e não são poucos. Ser red flag não é exclusividade de Top homem, embora eles sejam sempre os mais expostos.
6) você consome conteúdo fetichista *criado e divulgado* por mulheres?
Consumo, replico, divulgo e interajo, faço parte de um Clã e de um grupo de estudos encabeçados por uma mulher. Não só por eu ser mulher, mas porque acredito que o olhar feminino tem muito a acrescentar ao BDSM.
O BDSM brasileiro atual tem excelentes geradoras de conteúdo, gente que estuda muito e dispende muito tempo produzindo e compartilhando informação de qualidade. O meio só tem a ganhar.