Se existe uma coisa chamada “destino”, ele passou por aqui para me colocar nesta família. E agora formamos um trisal, o que chamam por ai de uma relação entre três pessoas, só que aqui foi contextualizada no meio BDSM, formada por dois Dominadores e um submisso. Sou um dos Dominadores envolvido neste trisal e contarei como tudo aconteceu.
Eu, Dom Davi, tive a oportunidade de conhecer Dom Barbudo pessoalmente durante o BDSM Camp 2. Tivemos um incrível momento juntos mas que não se concluiu, e ficou a promessa de finalizar o que começamos. Foi então que, num feriado pós BDSM Camp 3, decidi ir para São Paulo rever Dom Barbudo e os amigos que fiz. Naquele dia, queria apenas conversar e dar boas risadas com os amigos que conheci pelo BDSM.
Chegando pela primeira vez no Studio 57, fiquei não só impressionado com todos os equipamentos que ficam sempre ali, ao acesso, como também com um rosto novo que não perdeu tempo em sair perguntando de tudo sobre mim, demonstrando um grande interesse. Perguntei seu nome. “Me chamam de Cowboy. Sou o escravo fixo número 2 do Dom Barbudo”. Após uns minutos de conversa com ele e os meninos que estavam ali, fui usar o banheiro antes de descermos para almoçar.
Cowboy virou pros meninos e já disse “eu quero!”, e mandou mensagem pedindo autorização seu dono. Ao sair, já me deparo com aquele rapaz de jeito moleque, como se estivesse me esperando: “vem cá… olha, não sei se faço o seu tipo, mas te curti muito e estou a fim de ficar contigo. Se quiser, já sabe que eu quero”.
Não nego, em primeiro momento eu olhei bem e pensei “que rapaz atirado… e nem faz tanto meu tipo”. Mas ao mesmo tempo cogitei ver no que daria, afinal ficamos lisonjeados em ser desejados. Ao longo das conversas durante e após o almoço, fomos vendo como tínhamos pensamentos e visões afins, dentro e fora do BDSM. Não muito depois, Dom Barbudo chegou ao Studio 57 para nos visitar. Antes de ir embora, Dom Barbudo disse que podíamos fazer uma sessão, mas me surpreendeu ainda mais:
“Cowboy, você deve obedecê-lo como se fosse eu. E Davi, você tem carta branca para fazer e usar o que quiser daqui com o Cowboy. Divirtam-se!”.
Eu não conseguia processar, Dom Barbudo estava me emprestando seu escravo fixo e me dando carta branca? Nos conhecemos há pouco tempo e recebi este nível de confiança? Mais uma vez me senti lisonjeado, e abracei essa chance ímpar, ainda mais para alguém como eu que mal encontra praticantes no interior paulista.
O que posso dizer sobre o que se seguiu é que foi maravilhoso. O arsenal de Dom Barbudo é enorme. Não só Cowboy é um escravo incrível de se dominar, mas quando começamos a ter o contato corporal, rolou alguma química que nunca sentimos na vida e dominou todos os nossos sentimentos enquanto nos envolvíamos. Passamos o resto do dia quase que grudados, conhecendo mais um sobre o outro, e quanto mais eu conhecia e dominava aquele Cowboy, mais meu coração era laçado por ele sem eu perceber. O que eu pude notar é que eu, também, estava domando aquele garoto.
No dia seguinte, estávamos no metrô para nos despedir. Seu semblante mudou para um olhar triste, como de quem estivesse abrindo mão de algo muito importante, um cachorro que vê seu dono indo embora. Naquele instante, eu não tinha me dado conta e achava que foi só mais alguém com quem tive uma boa diversão, mas os dias conseguintes provaram o contrário.
Ficamos trocando muitas mensagens todos os dias. Ficávamos à vontade para falar de tudo, tanto das nossas fantasias como das situações do dia a dia. Até que ele tomou novamente a iniciativa: “conversei com meu DONO…. e quero ficar contigo, te ter como meu DONO também”. Esse povo gosta de me deixar sem reação! Pouco nos conhecíamos e ele é encoleirado por um dos mais incríveis dominadores que conheço. Ele se sente tão bem para querer que sua coleira seja compartilhada comigo?
Conseguimos, para algum tempo depois, nos ver novamente durante um feriado. Dom Barbudo já havia me dito, “se rolar, vocês têm minha bênção!”. Meus planos eram de usar esses dias juntos para conhecê-lo melhor e decidir se eu também queria aquilo. Tais planos tiveram de ser mudados… porque eu já tive a certeza logo no primeiro dia! Desta vez a iniciativa foi minha: “Cowboy…. você quer ser meu escravo e meu namorado?”. Eu tinha de pedi-lo em namoro também, pois a forma como nos completamos foi algo como nunca senti antes. A resposta veio sem hesitação: “Sim, meu dono e meu amor”.
Hoje, no momento de escrita deste texto, estamos quase completando um ano juntos, um relacionamento aberto como grudentos namorados e como intensos dono e escravo. O que vejo nele? O que ele vê em mim?
A resposta é mútua: alguém que nos enxerga pelo que somos, um parceiro que nos ama com nossas qualidades e defeitos, um fetichista convicto e que sabe o que quer. Unidos pelo BDSM, esta é a família que me acolheu e escolhi levar comigo para toda a vida.